O sucesso de Nayib Bukele em El Salvador contra a violência se transformou em um fenômeno global, mas especialistas alertam: transplantar essa estratégia para o Brasil seria um erro perigoso. A realidade brasileira exige soluções próprias, não cópias de modelos estrangeiros.
O mito da solução simples
Enquanto Bukele conquista manchetes internacionais com sua guerra contra as gangues, o contexto salvadorenho é radicalmente diferente do brasileiro. Com uma população de apenas 6,5 milhões de habitantes - menor que a da cidade de São Paulo - e um território compacto, El Salvador possui características que facilitam intervenções centralizadas.
"Pensar que podemos importar a receita de Bukele é como tentar curar uma doença complexa com um remédio para dor de cabeça", analisa um especialista em segurança pública.
Os números que não contam toda a história
Embora a redução nos homicídios em El Salvador seja impressionante - caindo de 106 para 7,8 por 100 mil habitantes entre 2015 e 2023 -, esse sucesso vem acompanhado de preocupantes violações de direitos humanos:
- Mais de 70.000 detenções sem devido processo legal
 - Sistema prisional superlotado e desumano
 - Concentração excessiva de poder no executivo
 - Erosão das instituições democráticas
 
Por que o Brasil precisa de seu próprio caminho
A complexidade brasileira exige soluções multifacetadas. Com 215 milhões de habitantes distribuídos em um território continental, 5.570 municípios e realidades sociais drasticamente diferentes, não existe bala de prata para a segurança pública.
"O que funciona em um país do tamanho de um estado brasileiro não necessariamente funcionará em uma federação complexa como a nossa", destaca analista político.
Os pilares para uma estratégia brasileira
- Inteligência policial: Investimento em tecnologia e coleta de dados
 - Integração federativa: Coordenação entre União, estados e municípios
 - Prevenção social: Combate às causas raízes da violência
 - Respeito aos direitos humanos: Sem abrir mão dos princípios democráticos
 
O perigo das soluções milagrosas
A sedução por respostas simples para problemas complexos é compreensível, mas perigosa. A experiência internacional mostra que políticas de segurança baseadas apenas em repressão tendem a ter efeitos temporários, enquanto criam novos problemas no longo prazo.
O caso Bukele serve como alerta: antes de buscar atalhos tentadores, o Brasil precisa construir sua própria solução, baseada em evidências e adaptada à nossa realidade única.
A lição que fica é clara: enquanto El Salvador optou por um caminho autoritário, o Brasil deve buscar o equilíbrio entre eficácia na segurança e preservação da democracia. O preço das soluções aparentemente simples pode ser alto demais para pagar.