Uma forte tempestade, com ventos superiores a 90 km/h, atingiu a cidade de São Paulo e deixou um rastro de destruição e escuridão. O episódio, que derrubou centenas de árvores e atingiu a rede elétrica, resultou em mais de 2,2 milhões de imóveis sem energia na capital e na Grande São Paulo.
O estopim de um problema crônico
A concessionária responsável pelo fornecimento, a Enel, se vê novamente no centro de uma crise. O blecaute massivo, com alguns bairros ficando no escuro pelo terceiro dia consecutivo, foi a gota d'água para as autoridades. Após a tempestade, uma reunião entre representantes do governo federal, estadual e municipal decidiu iniciar o processo para extinguir o contrato com a empresa.
O problema, no entanto, é antigo. Desde 2020, a Enel já recebeu R$ 374 milhões em multas aplicadas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) devido à má prestação de serviço. Desse valor astronômico, a empresa não pagou impressionantes 92%. O episódio atual reacende a memória do grande apagão de novembro de 2023, quando milhões também ficaram sem luz por até uma semana.
Entenda os processos e as justificativas
Em entrevista ao podcast O Assunto, da GloboNews, o repórter Léo Arcoverde detalhou a situação crítica da Enel em São Paulo. Ele explicou a diferença entre os processos de intervenção e de caducidade (extinção) do contrato e também relatou as alegações da empresa para justificar os recorrentes apagões.
A professora Joísa Dutra, da FGV do Rio e ex-diretora da Aneel, também participou do programa. Ela esclareceu como funcionam os trâmites para o fim de um contrato com concessionárias de energia. Joísa Dutra ainda abordou o que pode acontecer com a Enel e quais são as garantias para os consumidores diante da perspectiva de rompimento da concessão.
Multas, prejuízos e um futuro incerto
O cenário para a Enel é de extrema pressão. Além das multas não pagas e do imenso prejuízo causado à população e ao comércio, que soma centenas de milhões de reais, a empresa agora enfrenta uma ação coordenada dos três níveis de governo.
Enquanto funcionários da Enel trabalhavam para restabelecer a energia em locais como a Rua Eça de Queiroz, na Vila Mariana, a pergunta que paira no ar é: a Enel pode, de fato, ter seu contrato rompido por causa dos blecautes recorrentes? A resposta parece estar em curso, com o governo demonstrando ter esgotado a paciência após anos de falhas e milhões de consumidores afetados.
O podcast O Assunto, que trouxe a análise detalhada do caso, é produzido por Mônica Mariotti, Amanda Polato, Sarah Resende, Luiz Felipe Silva, Thiago Kaczuroski e Carlos Catelan, com apresentação de Natuza Nery. O programa, do g1, já soma mais de 168 milhões de downloads desde sua estreia, em agosto de 2019.