
O Palácio da Justiça, aquele edifício imponente no centro do Rio, viveu na última segunda-feira (23) uma daquelas cerimônias que renovam a fé no trabalho coletivo. O clima? Era de celebração pura, mas também de muita reflexão. Afinal, não é todo dia que se premiam iniciativas que literalmente constroem pontes.
Estou falando do Prêmio Patrícia Acioli de Direitos Humanos, uma homenagem mais do que justa àquela juíza que se tornou símbolo de coragem. E olha, a quarta edição não decepcionou. A grande sacada do prêmio, e isso é brilhante, é jogar holofete em trabalhos acadêmicos e ações práticas que encurtam a distância — que às vezes parece um abismo — entre o Poder Judiciário e os cidadãos comuns.
E os vencedores são...
Na categoria Iniciativas da Sociedade Civil, quem levou a taça foi o projeto "Lugares de Afeto: Crianças e suas Cirandas nos Territórios". A ideia, simplesmente genial, mapeia como os pequenos ocupam e dão vida aos espaços públicos nas favelas. É sobre ouvir as crianças, gente. Algo que frequentemente esquecemos de fazer.
Já no campo acadêmico, o vencedor veio de Niterói. O pesquisador Rafael da Silva Menezes impressionou a banca com sua dissertação de mestrado. O trabalho dele mergulha fundo na Lei de Execução Penal, analisando criticamente como o sistema prisional lida (ou deveria lidar) com a reinserção social de quem cumpre pena. Um tema urgente e espinhoso, tratado com a seriedade que merece.
E não para por aí. Três menções honrosas distribuíram reconhecimento para outras joias: o Núcleo de Experiência Cidadã (NEC) da Defensoria Pública, que facilita o acesso à Justiça; a Rede Nacional de Feministas Antiproibicionistas (RENFA), na linha de frente da discussão sobre drogas e gênero; e a pesquisa da Prof.ª Dr.ª Thaís da Silva Lopes, que investiga a interseção entre maternidade, cárcere e direitos humanos.
Um discurso que ecoa
O desembargador Claudio Dell'Orto, presidente do TJRJ, não mediu palavras. Ele defendeu, com convicção, que o Judiciário precisa, sim, sair da bolha. "Não podemos ser uma ilha", disparou, enfatizando que prêmios como este são combustível para uma Justiça mais pé no chão, que entende as complexidades da vida real das pessoas.
Fechando a noite com chave de ouro, a professora Rosa Maria Acioli, irmã de Patrícia, deu um depoimento emocionante. Ela lembrou que a luta da juíza era, acima de tudo, por um ideal de Justiça acessível a todos, sem distinção. "Patrícia acreditava no diálogo", ressaltou, deixando claro que cada projeto premiado é um prolongamento vivo desse legado.
Uma noite que, no fim das contas, foi muito mais que uma simples entrega de troféus. Foi um recado potente: a transformação social é possível quando a Justiça e a sociedade decidem caminhar juntas. E no Rio, essa semente está sendo plantada com força total.