
O Brasil pode estar prestes a testemunhar uma revolução silenciosa — aquela que acontece nos bastidores das reuniões técnicas do Banco Central. De um lado, os tradicionais bancos. Do outro, gigantes do varejo com um plano ousado: invadir o território das fintechs.
Pereira (dona das Casas Bahia) e Tenda (do grupo Multi) estão entre os que bateram à porta do BC com um pedido polêmico: querem regras mais flexíveis para operar como instituições financeiras. E não é só papo furado — elas já movimentam bilhões em crédito próprio.
O Jogo das Cadeiras Financeiras
Imagine a cena: redes que antes vendiam sofás e material de construção agora disputando espaço com Nubank e PicPay. A estratégia? Usar seu exército de lojas físicas e milhões de clientes para oferecer desde cartões até empréstimos pessoais.
"É a natural evolução do varejo 4.0", comenta um executivo do setor que prefere não se identificar. "Temos os dados dos consumidores, a capilaridade e a confiança — só falta o aval regulatório."
Os Três Pedidos Chave ao BC
- Alívio nos requisitos de capital: Querem regras adaptadas à realidade varejista, menos rígidas que as dos bancos tradicionais
- Porta giratória de dados: Buscam compartilhar informações financeiras entre empresas do mesmo grupo sem burocracia
- Licença sob medida: Sonham com uma autorização especial para varejistas, diferente das atuais SCDs e SEPs
O BC, é claro, não está distribuindo abraços grátis. Há preocupações legítimas sobre riscos sistêmicos e proteção ao consumidor. Afinal, crédito não é como vender liquidificador em 10x sem juros.
O Que Isso Significa Para Seu Bolso?
Se a flexibilização sair do papel, prepare-se para:
- Mais concorrência (e quem sabe taxas menores) no crédito ao consumidor
- Programas de fidelidade que valem como "score" para empréstimos
- Lojas transformando sua historinha de compras em linha de crédito pré-aprovada
Mas nem tudo são flores. Especialistas alertam: "Quando o pipoqueiro vira banqueiro, o risco pode vir de brinde", brinca um economista, referindo-se à necessidade de controles rígidos.
Enquanto o BC não se pronuncia, o varejo segue na torcida — e preparando os sistemas. Porque nesse jogo, quem chega primeiro bebe água limpa. Ou melhor, lucra com spread bancário.