
Imagine acordar com o barulho de água escorrendo por entre as rachaduras do seu teto. Ou pior: ter que escolher entre tomar banho de balde ou arriscar um choque no chuveiro improvisado. Essa não é a realidade de um filme distópico — é o dia a dia no Incra 7, Brazlândia.
O Retrato de um Abandono que Virou Rotina
"Aqui parece que o tempo parou nos anos 70", desabafa Dona Maria, 62 anos, enquanto mostra a fossa que transborda há três semanas. A cena? Comum. O cheiro? Insuportável. A solução? Nenhuma — pelo menos não vinda do governo.
Os problemas se acumulam feito lixo nas ruas não asfaltadas:
- Rede elétrica clandestina que transforma postes em árvores de Natal de fios
- Esgoto a céu aberto criando "rios" de água poluída na época de chuva
- Posto de saúde que mais parece cenário de filme de terror — faltam até algodão
Violência: O Pão Nosso de Cada Dia
À noite, o bairro vira território de ninguém. "Tiro? Aqui é como cantar de galo", ironiza um morador, pedindo anonimato. Os números assustam:
- Assaltos aumentaram 40% no último semestre
- Iluminação pública? Só em 30% das ruas
- Única viatura da polícia comunitária passa... quando passa
E a prefeitura? Diz que "está ciente" — frase que já virou piada entre os locais. Enquanto isso, crianças brincam entre entulhos e adultos desenvolvem "criatividade de sobrevivência".
Esperança em Meio ao Caos
Curiosamente, é na própria comunidade que surgem soluções improvisadas. Mutirões organizados por vizinhos tentam tapar os buracos das ruas. A igreja local virou "posto médico alternativo" nas horas de emergência.
"A gente se vira como pode", resume Seu José, mostrando o sistema caseiro de filtragem de água que inventou. Uma mistura de engenhosidade e desespero que, infelizmente, virou marca registrada do Incra 7.