Vigília emocionante marca 20 anos da morte de Jean Charles: justiça ainda não foi feita
Vigília marca 20 anos da morte de Jean Charles em Londres

Duas décadas se passaram, mas a dor ainda lateja como se fosse ontem. Na fria Londres, onde o destino pregou uma peça cruel, familiares e amigos se reuniram numa vigília que misturava lágrimas, velas e uma pergunta que não quer calar: "Até quando?"

Jean Charles de Menezes — o cara que saiu de Minas Gerais com sonhos nos olhos e acabou tombado num metrô por um erro que custaria caro demais. 22 de julho de 2005. A data ficou gravada a ferro e fogo na história. A polícia confundiu o eletricista brasileiro com um suspeito de atentados. Atirou primeiro, perguntou depois. E aí? Cadê o peso da justiça?

O que restou

— A gente não esquece. Não deixa apagar — diz uma prima, segurando a foto dele como quem protege um tesouro. Do outro lado do oceano, em Gonzaga (MG), a mãe envelheceu de saudade. "Ela ainda espera um pedido de desculpas que nunca vem", solta um ativista, mastigando as palavras com raiva contida.

Londres estava cinza, claro. Sempre está quando o assunto é esse. Uns 50 corajosos enfrentaram o vento cortante:

  • Cartazes com o rosto sorridente de Jean
  • Balões verdes e amarelos — cores que ele não pôde mais vestir
  • Um silêncio que doía mais que o frio

"Justiça não é favor, é obrigação", gritou alguém. E a frase ecoou, misturando-se ao barulho dos trens — os mesmos que levaram o brasileiro para a morte.

O processo (ou a falta dele)

Aqui é que a coisa aperta: depois de tanto tempo, ninguém foi punido. A família ganhou uma indenização? Ganhou. Mas dinheiro não devolve um filho. Dois policiais chegaram a ser acusados, mas a Justiça britânica arquivou o caso. "Foi um equívoco", disseram. Equívoco? Matar um inocente a sangue frio?

— A gente cansa de bater na mesma tecla — desabafa um amigo, esfregando as mãos geladas. — Parece que a vida dele valeu menos porque era imigrante.

E não é que a história se repete? Todo ano a mesma cena: velas, discursos, promessas. E todo ano o sistema dá de ombros. Até quando? Até quando?