
Doze anos se passaram, mas a ferida ainda sangra. A Justiça do Ceará finalmente emitiu seu veredito sobre um daqueles casos que marcam uma cidade – a tal ponto que basta dizer "Chacina do Curió" para as pessoas saberem do que se trata. Dois policiais militares, condenados. A sentença saiu nesta quarta-feira (25), e não foi branda.
Os nomes deles: Sargento Raimundo Nonato de Oliveira Lima e o Soldado José Jarbas de Souza Araújo. A acusação? Homicídio triplamente qualificado. A história é daquelas que custa acreditar que aconteceu de verdade, não em um filme de terror. Corria o ano de 2013, um 25 de setembro como qualquer outro, até deixar de ser.
No bairro Curió, zona oeste de Fortaleza, cinco jovens – sim, cinco – foram executados. A versão inicial, aquela que sempre tentam emplacar, era de confronto. Mas sabe como é, o tempo vai escancarando a verdade. As investigações, puxadas pela Delegacia de Homicídios, foram mostrando que a coisa foi muito, mas muito diferente.
O Rastro de uma Mentira
O que realmente aconteceu naquela noite? A justiça concluiu que não houve troca de tiros. Foi uma execução sumária, pura e simples. Os PMs chegaram atirando, sem chance de defesa. Os jovens – Jefferson da Silva, 20 anos; Jhonata Santos, 18; José Alves, 22; Messias Pereira, 20; e Ronaldo dos Santos, 22 – foram surpreendidos pela violência que deveria, em tese, protegê-los.
O caso demorou para andar, preso na lentidão que caracteriza tantos processos envolvendo agentes do estado. Mas a pressão de familiares e de organizações de direitos humanos manteve a chama acesa. O Ministério Público do Estado (MPCE) conseguiu, finalmente, levar o caso a julgamento. E o resultado foi uma condenação firme.
As penas? O sargento Raimundo Nonato pegou 53 anos de prisão. O soldado José Jarbas, 47. São números que impressionam, mas a pergunta que fica é: será que algum dia eles de fato irão para trás das grades? A defesa, claro, já anunciou recurso. A batalha judicial está longe do fim.
Uma Ferida que não Fecha
Para as famílias, a condenação é um alívio amargo. É a confirmação, oficial, de que seus filhos, irmãos, netos, foram vítimas de um abuso monstruoso de poder. Mas não traz ninguém de volta. Doze anos é uma eternidade carregando uma dor dessas.
O caso da Chacina do Curió se tornou um símbolo. Um exemplo triste e repetitivo de como a violência policial pode ceifar vidas injustamente, principalmente nas periferias. A condenação é um passo importante, sem dúvida. Mas é só um passo num caminho enorme que o Brasil ainda precisa percorrer para combater a cultura da execução.
Enquanto isso, em Fortaleza, a memória daqueles cinco jovens segue viva. E a sentença de hoje é um capítulo crucial, ainda que tardio, na busca por uma justiça que, de fato, seja para todos.