
E aí, mais uma vez a gente se vê aqui. De luto. De raiva. De perguntas que não calam. O Movimento Mães de Maio — aquelas mulheres de coragem que transformaram dor em luta — tá de volta pra gritar o que ninguém parece querer ouvir.
A notícia chegou como um soco no estômago: o ex-delegado da Polícia Civil, José Guilherme de Souza Castro, de 63 anos, morreu. Não foi doença, não foi acidente. Foi bala. Na frente da própria casa, em São Paulo, na terça-feira. E as circunstâncias? Neblinas densas, daquelas que a gente conhece bem.
E sabe o que é pior? A sensação de déjà vu. Aquele frio na espinha que percorre toda a periferia quando a violência policial decide fazer mais uma das suas investidas. As Mães de Maio — que perderam seus filhos em 2006 numa chacina que até hoje dói — soltaram um comunicado que é um misto de lamento e ultimato.
O Grito que Ecoa das Quebradas
"A gente cansa de ser alvo fácil", diz o texto, com uma honestidade que corta. E não é? Enquanto os protocolos ficam na gaveta, a bala corre solta. O movimento foi direto: a morte do ex-delegado precisa ser investigada até o talo. Sem meias-palavras, sem versões convenientes.
Mas o recado vai além — muito além. É um apelo — ou melhor, uma exigência — por inteligência. Sim, inteligência de verdade. Do tipo que previne, que investiga, que não precisa de dez viaturas e cem tiros para resolver um caso. "Chega de fazer da periferia o campo de batalha onde os pobres sempre perdem", ecoa o manifesto.
O Fantasma de 2006
Quem viveu aquele maio de 2006 não esquece. Foram mais de 500 mortos — a maioria jovens, negros, pobres — em supostos "conflitos com a polícia". As Mães de Maio nasceram desse caldo de dor e injustiça. E desde então, elas não calam. Não cansam. Não pedem por favor.
E agora, quase vinte anos depois, a história parece querer repetir seu capítulo mais sombrio. A morte do ex-delegado acendeu um alerta: será que a política de "atirar primeiro" vai voltar com tudo? O medo é real. E palpável.
O movimento foi claro: não dá mais pra aceitar que a resposta seja sempre a mesma. Mais armas. Mais blindados. Mais operações que parecem invasões. A cobrança é por investimento pesado em inteligência, em investigação, em algo que não dependa do confronto direto.
O Preço que a Periferia Não Quer Pagar
E no meio disso tudo, quem paga a conta? Sempre os mesmos. O jovem que vai pra padaria. A mãe que pega ônibus. O trabalhador que volta cansado. A periferia inteira, que vira refém de dois lados: do crime e da própria polícia.
As Mães de Maio sabem disso na pele. E por isso, o recado delas é duro: "Não vamos permitir que novas mortes se justifiquem por essa". A exigência é por apuração transparente. E por um novo modelo de segurança — um que não precise de sangue para funcionar.
O caso do ex-delegado ainda está sob investigação. A Polícia Civil diz que trabalha com "todas as hipóteses". Mas o clima é de tensão. E de urgência. Porque quando a bala começa a voar, não avisa onde vai cair.
Enquanto isso, as Mães seguem de olho. E de luta. Porque elas, melhor que ninguém, sabem: silêncio nunca foi opção.