
O clima em Itaúna, no interior mineiro, é de luto e revolta. Nesta terça-feira (29), familiares e amigos se despedem do caminhoneiro José Roberto Silva, de 42 anos — morto com um tiro no peito durante uma abordagem da Guarda Municipal que, segundo testemunhas, "não fez o menor sentido".
O que era pra ser mais um dia de trabalho virou pesadelo. Por volta das 14h de sábado, José — pai de três filhos — parou o caminhão num posto de combustível. Dois guardas chegaram armados, gritando. "Ele levantou as mãos, mas um dos PMs atirou mesmo assim", conta um frentista que pediu pra não ser identificado. "O sangue escorreu pelo asfalto como se fosse óleo vazado."
Família em choque
Na casa simples da periferia, a viúva Mariana segura o uniforme sujo de graxa do marido. "Ele era trabalhador, nunca teve problema com a lei", diz, entre soluços. Os filhos — de 8, 12 e 15 anos — não entendem por que "o papai não vai voltar".
A prefeitura emitiu nota dizendo que "apura os fatos". Mas a versão oficial — de que José teria reagido — é contestada por três vídeos de câmeras de segurança que circulam em grupos de WhatsApp. Nas imagens, ele aparece imóvel, com as mãos para cima, antes do disparo.
Enterro sob protestos
O velório, que começou às 9h, já reuniu mais de 200 pessoas. Algumas carregam cartazes: "Bala não é resposta!" e "Justiça por Zé Roberto". O sindicato dos caminhoneiros prometeu uma carreata até o cemitério — onde o corpo será enterrado às 16h.
Enquanto isso, o Ministério Público já abriu inquérito. O guarda municipal envolvido foi afastado. "É caso de homicídio doloso", afirma o delegado responsável, que pediu sigilo. A família contratou um advogado. "Vamos até as últimas consequências", promete o irmão da vítima, segurando a foto do CNH manchada de sangue.