
Era um dia como qualquer outro — até que não era mais. O medo, aquele companheiro constante, finalmente deu lugar a uma centelha de coragem. Foi assim para muitas mulheres no Distrito Federal, que durante o Agosto Lilás encontraram forças para quebrar o silêncio.
O grito que veio depois do sussurro
"Parece clichê, mas foi como se uma chave virasse dentro de mim", conta Ana (nome fictício), 34 anos, enquanto mexe nervosamente no café que já esfriou. Ela lembra do exato momento em que decidiu fazer a denúncia — depois da terceira ameaça com faca, mas antes que a próxima pancada chegasse.
O Agosto Lilás, campanha nacional de conscientização, trouxe este ano histórias que doem, mas também inspiram. No DF, os números assustam: só no primeiro semestre, mais de 12 mil boletins de ocorrência por violência doméstica. Por trás de cada estatística, um rosto.
- Mariana, 28 anos: "Demorei 3 anos para perceber que amor não dói"
- Cláudia, 41 anos: "Meus filhos me deram a coragem que eu não tinha"
- Luiza, 53 anos: "A Delegacia da Mulher me salvou quando eu já não acreditava em nada"
O caminho até a denúncia
Não foi fácil. Nunca é. A psicóloga Raquel Torres explica que o processo envolve uma "série de pequenos terremotos internos" antes da decisão final. "Muitas chegam tremendo, com vergonha, medo de não serem levadas a sério", descreve.
Mas quando finalmente batem na porta da delegacia — ou ligam para o 180 — começa outra jornada. A do empoderamento, da reconstrução, da redescoberta de si mesmas. "É como aprender a respirar de novo", define uma das vítimas.
Serviços disponíveis no DF
Para quem está nessa encruzilhada, o Distrito Federal oferece:
- Delegacias Especializadas (incluindo a 24h)
- Casa da Mulher Brasileira
- Programa Viva Flor
- Disque 180 (nacional) e 156 (local)
"A gente sabe que não é simples", admite a delegada Patrícia Barcelos. "Mas cada denúncia é uma vida que pode ser salva." E agosto, com seu laço lilás, serve como lembrete: você não está sozinha.