
Não é exagero dizer que o relógio da violência doméstica no Rio Grande do Sul não para. A cada 60 minutos, pelo menos duas mulheres sofrem agressões dentro de suas próprias casas — um retrato cruel que persiste mesmo após 19 anos da criação da Lei Maria da Penha.
Os números, que beiram o absurdo, foram compilados por órgãos de segurança e revelam uma realidade que muitos preferem ignorar. Enquanto o Brasil discute políticas públicas, essas mulheres enfrentam o perigo no lugar que deveria ser seu porto seguro.
Os dados que não mentem
De janeiro a julho de 2025, os boletins de ocorrência no estado contabilizaram:
- Mais de 8 mil casos registrados
- Um aumento de 12% em relação ao mesmo período de 2024
- 75% das vítimas com idades entre 18 e 35 anos
"É como se a cada vez que você olha para o relógio, outra vida fosse marcada pela violência", comenta uma delegada que prefere não se identificar. Ela trabalha há 15 anos atendendo vítimas e afirma que os casos mais graves costumam começar com "pequenas" agressões verbais.
Lei Maria da Penha: avanço ou letra morta?
Criada em 7 de agosto de 2006, a legislação foi um marco no combate à violência doméstica. Mas será que está sendo aplicada como deveria? Especialistas apontam três gargalos principais:
- Falta de estrutura nas delegacias especializadas
- Demora na concessão de medidas protetivas
- Fragilidade na rede de apoio às vítimas
"Temos a lei, mas não temos o que realmente importa: prevenção e proteção eficaz", dispara uma assistente social que atua em Porto Alegre. Ela relata casos de mulheres que desistem de denunciar por medo — ou pior, por falta de alternativas concretas.
Enquanto isso, o relógio continua correndo. E a cada hora que passa, mais duas histórias de dor se somam às estatísticas do Rio Grande do Sul.