
Ela ainda sente o peso da facada nas costas quando fecha os olhos. A dor física já passou, mas o medo? Ah, o medo virou sombra permanente. Em Campos Gerais, interior de Minas, uma mulher de 32 anos — que pediu para não ser identificada — vive o pesadelo de saber que o homem que quase a matou continua solto. E pior: ameaçando repetir o crime.
O caso aconteceu na semana passada, mas poderia ser hoje. Ou amanhã. É assim que ela descreve a sensação de insegurança: "Quando ele disse 'se fez uma vez, faz de novo', eu entendi que não era brincadeira".
O dia em que o passado voltou com ódio
Tudo começou com uma discussão boba sobre mensagens no WhatsApp. Só que com ele, brigas "bobas" sempre terminavam em gritos, empurrões. Dessa vez, terminou com uma faca de cozinha cravada nas suas costas. "Pensei que ia morrer ali, no chão da minha própria casa", conta, com a voz embargada.
Os vizinhos ouviram os gritos e chamaram a polícia. Ele fugiu antes da chegada dos agentes, deixando um rastro de sangue e promessas de vingança. "Ele me mandou mensagem dizendo que quando saísse da cadeia — se fosse preso — terminaria o serviço".
Justiça lenta, medo constante
O Boletim de Ocorrência foi registrado. O ex-companheiro responde por tentativa de feminicídio. Mas enquanto a Justiça não anda, ela anda com escolta policial improvisada — um primo que a acompanha até o trabalho. "Não tenho medida protetiva porque, segundo me disseram, 'falta prova'. Como assim falta prova? Tem a facada, tem as mensagens, tem testemunha!".
O delegado responsável pelo caso afirmou que "as investigações seguem em andamento", mas evitou dar detalhes. Enquanto isso, na pracinha da cidade, o assunto não sai da boca do povo. "Todo mundo comenta, mas ninguém faz nada", desabafa uma vizinha, que também tem medo de se identificar.
Os números assustam:
- Minas Gerais registrou 63 feminicídios só em 2024
- 70% dos casos começaram com ameaças não levadas a sério
- A cada 2 horas, uma mulher sofre violência no estado
Ela agora divide a vida entre o trabalho numa loja de tecidos e a casa de parentes — nunca dorme dois dias seguidos no mesmo lugar. "Se eu pudesse dar um conselho pra outras mulheres? Corram ao primeiro sinal. Porque quando a gente acha que é exagero, pode ser tarde demais".