
Numa tarde que começou como qualquer outra em Itupeva, o silêncio de um bairro residencial foi quebrado por gritos que ninguém conseguiu ignorar. Vizinhos — aqueles que costumam só acenar da janela — desta vez não viraram as costas. O que encontraram do outro lado do muro deixaria qualquer um com os nervos à flor da pele.
Cabos de energia enrolados como armas, marcas vermelhas em pele infantil, e uma cena que nem o mais experiente agente policial consegue ouvir sem cerrar os punhos. A dona da casa, uma mulher de 32 anos que deveria ser porto seguro, agora está atrás das grades acusada de transformar o lar em campo de tortura.
O dia em que a vizinhança decidiu agir
Não foi um barulho, não foi um choro — foi a persistência. "A gente via as crianças sempre de manga comprida, mesmo no calor de 30 graus", conta uma moradora que pede para não ser identificada. Até que na terça-feira (15), o que era suspeita virou certeza: através de uma janela entreaberta, testemunhas viram a cena que descrevem como "pesadelo em plena luz do dia".
- Duas crianças, entre 7 e 10 anos, amarradas com fios de eletrodomésticos
- Marcas de chicotadas nos braços e pernas
- Alegadas "punições" por terem derrubado comida no chão
Quando a PM chegou, a cena era ainda pior do que o relatado. "Tinha fio de ventilador, daquelas extensões compridas, tudo molhado — como se ela tivesse encharcado pra doer mais", desabafa um dos policiais, visivelmente abalado.
O outro lado da história
Na delegacia, a mãe — que agora responde por lesão corporal e maus-tratos — tentou justificar o injustificável. Disse que eram "medidas educativas", que os filhos eram "difíceis". O delegado, pai de três, não engoliu a versão. "Educação não deixa hematoma em forma de circuito elétrico", disparou.
Enquanto isso, as crianças estão sob os cuidados do Conselho Tutelar. Psicólogos falam em trauma que pode levar anos para ser superado — se é que um dia será. Vizinhos se organizam para levar brinquedos e roupas, num movimento que mostra o melhor da comunidade diante do pior da humanidade.
O caso, que já viralizou nas redes locais, reacendeu o debate sobre até onde vai o direito de educar e onde começa a crueldade. Enquanto a Justiça não decide, Itupeva tenta entender como uma mãe cruzou essa linha sem que ninguém percebesse antes.