
O silêncio naquela casa simples de Mogi das Cruzes escondia um segredo horrível. Uma daquelas verdades que, quando vêm à tona, deixam a comunidade inteira de luto — e com um nó na garganta. Aos dois anos de idade, Pedrinho (nome fictício para preservar a identidade) deveria estar descobrindo o mundo. Em vez disso, tornou-se a vítima mais frágil de uma crueldade sem explicação.
A Polícia Civil prendeu em flagrante na tarde desta quarta-feira (3) a mãe do menino e o padrasto. Sim, você leu certo: as pessoas que deveriam ser seu porto seguro. O delegado titular do 1º DP, Fábio Pinheiro, não esconde a gravidade. "Estamos diante de um caso de violência doméstica intensa, com fortes indícios de que a criança foi submetida a agressões físicas graves e sucessivas", revela, com a voz carregada daquela seriedade que só casos assim impõem.
E como a justiça parece, às vezes, dar voltas para chegar rápido? O laudo preliminar do IML não deixa margem para dúvidas: a causa da morte foi mesmo violenta. Lesões internas, hemorragias... coisas que nenhuma criança deveria sequer conhecer. O mais revoltante? As investigações apontam que a mãe sabia de tudo. Sabia e se calou. Omitiu-se. Falhou no mais básico dos instintos.
O Desenrolar de um Pesadelo Anunciado
Tudo começou com uma ligação anônima. Alguém, vizinho ou conhecido, não aguentou mais ouvir ou suspeitar e decidiu agir. A polícia chegou ao endereço no Jardim Santista e encontrou o pequeno já sem vida. O cenário era desolador. Os peritos trabalharam a noite toda, e as peças do quebra-cabeça macabro se encaixaram com uma velocidade assustadora.
O casal foi levado para o depoimento e a versão deles — ah, a versão deles — era frágil como castelo de areia. Disseram que a criança havia "caído da cama". Só que as evidências contavam outra história. Uma história de violência repetida, de marcas antigas e novas, de negligência que beira o inacreditável.
O juiz da Vara da Infância e Juventude de Mogi das Cruzes não titubeou. Diante dos fatos, decretou a prisão preventiva dos dois. Agora, eles respondem na cadeia pelos crimes de homicídio doloso (quando se assume o risco de matar) e omissão de socorro. A defesa, é claro, já deve estar a todo vapor. Mas, convenhamos, como defender o indefensável?
E Agora? O Que Resta?
Além da comoção, fica a pergunta: como uma coisa dessas acontece? Como se chega a esse ponto de desumanização? Especialistas em violência doméstica costumam dizer que casos assim raramente são um episódio único. São um processo. Uma sucessão de pequenas violências que se normalizam, até que a última e definitiva acontece.
A sociedade fica com o coração apertado. E com a obrigação de não virar a cara. De ficar atenta, denunciar ao Conselho Tutelar, ao Disque 100. Porque criança não é um objeto. É um ser em formação que depende inteiramente de nós, adultos. O caso Pedrinho é um lembrete trágico e cortante dessa responsabilidade coletiva que, falhada, tem consequências irreversíveis.
O caso segue sob investigação. Novos detalhes podem surgir. Mas uma coisa é certa: a justiça, embora tardia para o pequeno Pedrinho, precisa ser feita. Para ele e para todas as outras crianças que vivem caladas behind closed doors.