
Não deu outra. A cena era quase previsível, mas nem por isso menos intensa. Lá estava ele, Travis Scott, no palco do The Town, e o público, em um surto coletivo de euforia e rebeldia, decidiu que as regras eram meras sugestões. Sinalizadores. Dezenas deles. Iluminando a noite paulistana com um vermelho intenso, contra todas as ordens explícitas da produção do evento.
Parecia um flashback daquele pesadelo em Astroworld – a gente até arrepia. A organização, claro, tentou conter. Anúncios sonoros ecoaram pelo espaço, um verdadeiro disco arranhado insistindo: “é expressamente proibido o uso de qualquer tipo de artefato pirotécnico”. Até mensagens nos telões rolaram. Mas e daí? Para aquela massa pulsante, era como falar com a parede.
A verdade é que o episódio joga um holofote brutal sobre aquele debate que a gente nunca deveria ter parado de fazer: até onde vai a busca por um momento épico e onde começa o perigo real? A produção do The Town saiu na frente, foi transparente, avisou até pelo aplicativo. Mas aí… a vontade de fazer parte do espetáculo falou mais alto.
Um Ato Calculado ou Pura Adrenalina?
É difícil cravar. Seria uma provocação consciente, um ato quase político de desafio? Ou apenas aquele impulso irrefreável de quem quer transformar um show em algo lendário, independente das consequências? O fato é que a linha entre a celebração e a tragédia é fina, muito fina. E todo mundo sabe que o Travis Scott, com sua energia caótica e catalisadora, mexe com esse instinto primal da galera.
Ninguém se machucou dessa vez. Graças a Deus, ou ao acaso. Mas o susto ficou. A imagem daqueles clarões no meio da multidão é poderosa, sem dúvida, mas também é um soco no estômago de quem se lembra do que já aconteceu. Serve de alerta, ou pelo menos deveria servir, para todos: fãs, artistas e produtores. A segurança tem que ser inegociável, mesmo quando a emoção está a mil.
No fim das contas, o show foi incrível, diz quem estava lá. Mas ficou aquele gosto amargo de que a lição, talvez, ainda não tenha sido totalmente aprendida. Esperamos que não precise acontecer de novo para que, finalmente, a gente entenda que nenhum momento de glória vale uma vida.