
Ela preferia não lembrar, mas as marcas no corpo e na alma falam mais alto que o silêncio. Uma tarde comum em Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo, transformou-se num pesadelo que ela carregará para sempre. E tudo por causa de um jogo que prometia fortunas, mas só trouxe destruição.
— Ele não pensava duas vezes — conta ela, com voz ainda trêmula. — Tirava o alimento da boca das crianças, vendia nossas coisas... Tudo para alimentar essa maldita obsessão pelo Tigrinho.
O relato é duro, direto. Uma daquelas histórias que a gente ouve e espera nunca viver. O ex-companheiro, viciado no jogo de azar, tornou-se uma ameaça constante. E no dia 3 de setembro, ultrapassou todos os limites.
O dia em que tudo piorou
Foi numa calçada, em plena luz do dia. Ele chegou acelerando — e não foi por acidente. Ela garante que foi de propósito. Uma tentativa clara de intimidar, de machucar, de mostrar quem "mandava".
— Eu caí, gritei. Ele só olhou e foi embora. Nem parou para ver se eu estava viva.
Os ferimentos foram leves, sortemente. Mas o medo? Esse ficou. Profundo, enraizado. Como se cada carro que passa agora seja uma possível ameaça.
O jogo que destrói famílias
O Tigrinho não é só um passatempo inocente, pelo menos não nessa casa. Virou o centro das discussões, o motivo das faltas nas contas, o pesadelo que roubava o sono das crianças.
— Meus filhos perguntavam por que a gente não tinha mais leite, por que o pai sumia com o dinheiro do almoço. Como explicar que era por causa de um jogo?
Ela fez boletim de ocorrência. De novo. Porque não era a primeira vez, nem seria a última — até que algo mudasse. Dessa vez, a justiça foi acionada, e ele responde por lesão corporal e ameaça.
Mas será que basta? Essa é a pergunta que fica, ecoando na cabeça de quem ouve sua história. Até quando?