
Uma cena de partir o coração tomou conta do Hospital de Emergência e Trauma de João Pessoa nesta quarta-feira. Um bebê de apenas um ano e dois meses chegou sem vida à unidade de saúde, mas as marcas no corpinho contavam uma história muito mais sombria. Não foi um acidente. As lesões eram claramente intencionais - e múltiplas.
Segundo informações que vazaram da delegacia, a situação era tão grave que imediatamente acionou todos os alarmes. A criança apresentava hematomas por todo o corpo, como se tivesse sido espancada repetidamente. O que deveria ser um santuário de proteção, o próprio lar, transformou-se numa armadilha mortal.
As peças do quebra-cabeça macabro
A polícia não perdeu tempo. Enquanto os médicos atestavam o óbito por traumatismo craniano - algo simplesmente inadmissível numa criança tão nova -, os agentes já seguiam pistas. A mãe, uma mulher de 22 anos, foi localizada e levada para prestar esclarecimentos. Sua versão? Diz que deixou o filho aos cuidados do companheiro, um homem de 24 anos, e ao retornar encontrou a criança já sem vida.
Mas aqui é que a coisa complica. O suposto padrasto, quando interrogado, simplesmente se recusou a falar. Ficou em silêncio, como se o muro de omissão pudesse esconder a verdade. Uma atitude que, convenhamos, fala mais alto que mil palavras.
Investigação aponta para violência prolongada
O que mais choca os investigadores é a natureza sistemática das agressões. Não foram machucados de uma única vez, mas sim marcas que sugerem maus-tratos contínuos. "São lesões em vários estágios de cicatrização", comentou um delegado que preferiu não se identificar. Isso indica que a pequena vítima sofria há semanas, talvez meses.
O caso agora está nas mãos da Delegacia de Crimes Contra a Criança e o Adolescente. Eles trabalham com duas linhas principais: homicídio doloso (quando há intenção de matar) e maus-tratos. A mãe foi apreendida preventivamente, enquanto o padrasto já está preso - ironicamente, na mesma cadeia onde cumpre pena por outro crime anterior.
Pergunta que não quer calar: como uma sociedade que se diz civilizada permite que cenas como essas se repitam? Quantos gritos silenciosos precisam ecoar antes que acordemos?
Enquanto a justiça tenta costurar os detalhes desse triste episódio, resta o vazio. O berço vazio. E a certeza de que falhamos coletivamente em proteger quem mais precisava.