
Não era um dia qualquer em Ubatuba. O céu até estava azul, desses que enganam — como se a vida seguisse tranquila naquela cidade praiana. Mas não seguiu. Uma mulher, cujo nome ainda não foi divulgado, foi encontrada morta na região central. E não foi um acidente, não foi uma fatalidade. Foi assassinato. Cruel, como costumam ser.
Segundo testemunhas — aquelas pessoas que sempre veem tudo e às vezes preferiam não ter visto —, a vítima vivia pelas ruas. "Ela não incomodava ninguém", disse um comerciante, misturando raiva com um cansaço que só quem convive com a injustiça diária conhece. O corpo apresentava marcas de violência. Muitas.
O que se sabe até agora?
A polícia chegou cedo, mas tarde demais. Nada de câmeras por perto, nada de suspeitos óbvios. Só o silêncio pesado de quem sabe que histórias como essa costumam terminar em arquivo esquecido. "Estamos apurando", diz o boletim oficial. Enquanto isso, os moradores ficam com o incômodo de perguntas sem resposta:
- Quantos casos assim precisam acontecer até virar prioridade?
- Por que algumas vidas parecem valer menos no papel do que na realidade?
Ah, e tem um detalhe: Ubatuba não é São Paulo capital, mas o problema — esse sim — parece ter endereço fixo em todo o estado. Violência, descaso, invisibilidade. Tudo junto e misturado, como um lixo que ninguém quer ver mas que insiste em feder.
E agora?
Enquanto o IML leva o corpo e os policiais anotam detalhes que talvez nunca sejam usados, a cidade tenta seguir. Alguns acendem velas. Outros fecham as portas mais cedo. A maioria só suspira e segue — porque o que mais resta fazer? A verdade é dura: amanhã o sol vai nascer de novo, o mar vai continuar batendo na areia, e essa mulher vai ser só mais um número na estatística. Até que aconteça de novo.
E vai acontecer. Todos sabemos.