O silêncio na margem do rio Paranaá quebra-se apenas pelo zumbido dos barcos da Marinha — uma operação de busca que transformou a paisagem pacata de Ilha Solteira em palco de um mistério sombrio. No centro dele, a ausência de uma estudante trans cuja vida foi interrompida brutalmente.
"A gente vê essas coisas na TV, mas nunca imagina que vai acontecer aqui", comenta um morador, esfregando as mãos nervosamente. A cidade, conhecida pelos lagos e pescarias, agora respira tensão. Segundo fontes, a vítima — cuja identidade ainda não foi divulgada — teria desaparecido após sair com amigos na noite de quinta-feira.
Operação em águas turvas
Dois helicópteros sobrevoam a região desde o amanhecer, enquanto mergulhadores reviram o leito do rio. "É como procurar uma agulha no fundo do oceano", admite um dos militares, sob o sol inclemente do interior paulista. A correnteza forte e a vegetação subaquática complicam o trabalho.
Nas redes sociais, a hashtag #JustiçaPara[Nome] (o nome real da vítima está sendo preservado por respeito à família) viralizou. Coletivos LGBTQIA+ organizam vigílias e cobram agilidade nas investigações. "Isso não pode virar mais uma estatística", dispara uma ativista, com a voz embargada.
O que se sabe até agora?
- A vítima tinha 22 anos e cursava biologia numa faculdade local
- O último registro dela é em uma câmera de segurança perto da rodoviária
- Testemunhas relatam ouvir gritos por volta das 23h na área do porto
- A polícia suspeita de crime de ódio, mas não descarta outras motivações
Enquanto isso, na delegacia, o delegado responsável — que já lidou com casos de violência contra minorias — parece incomodado com os holofotes. "Temos pistas importantes", diz, evitando detalhes. Já o prefeito, pressionado, prometeu "tolerância zero" a crimes de discriminação.
No campus da universidade onde a jovem estudava, flores e velas formam um memorial improvisado. Entre as mensagens, uma se destaca: "Você merecia ver o arco-íris depois da tempestade".
