Líder comunitário de Paraisópolis faz alerta urgente: 'Precisamos de mais cientistas, menos ídolos do funk'
Líder de Paraisópolis: "Precisamos de mais cientistas, menos ídolos"

O que passa pela cabeça de um adolescente quando olha para o horizonte de possibilidades? A pergunta, incômoda como um grão de areia no sapato, ecoa nas vielas de Paraisópolis. E a resposta, muitas vezes, é desoladora.

Gilson Rodrigues — aquele mesmo líder comunitário que botou a boca no trombone durante a pandemia — soltou o verbo de novo. Dessa vez, o alvo foi a falta crônica de opções que empurra nossos jovens para os braços de… bem, você sabe de quem.

"A gente precisa parar de romantizar essa porcaria", ele dispara, sem papas na língua. "Enquanto o sistema não oferecer educação de verdade, emprego digno e cultura que não seja a do crime, esses moleques vão continuar sonhando em ser o próximo MC Ryan ou o chefe do tráfico local. E quem pode culpá-los? É o que eles veem dando 'certo'."

O labirinto sem saída

O raciocínio é brutalmente lógico, mas ninguém quer encarar. A glamourização do crime — seja no funk, seja nas redes sociais — cria um ímã perverso. Virar "famoso" pelo caminho errado parece mais tangível do que encarar uma sala de aula decadente e depois bater ponto num subemprego.

Neymar? Daniel? Eles são a exceção que confirma a regra absurda. A regra que diz que para um garoto da quebrada vencer, ele precisa ou de um dom sobrenatural para o futebol… ou de uma audácia criminosa.

O meio-termo? A carreira estável, o técnico, o enfermeiro, o professor? Sumiu. Virou miragem.

E aí, qual é a solução?

Gilson não fica só na crítica. Ele aponta o dedo para onde dói: o poder público. "Não adianta chegar de helicóptero, distribuir cestas básicas e achar que tá resolvido. Precisa estar no chão. Todo. Santo. Dia."

Ele defende projetos de longo prazo que criem, de fato, novas rotas. Espaços culturais que não sejam só depósito de criança. Oportunidades de primeiro emprego que não humilhem. Acesso à universidade que não seja uma corrida de obstáculos impossível.

O recado é claro: ou a gente constrói escolas e centros de oportunidade, ou continuaremos a alimentar as fileiras do crime. Não existe terceira via. A omissão do Estado é, ela mesma, cúmplice.

O futuro de Paraisópolis — e de tantas outras periferias — joga no lixo o seu potencial todos os dias. E assistimos a tudo, paralisados. Até quando?