
Não é exagero dizer que a cena arranca lágrimas até do mais endurecido dos corações. No bairro do Tapanã, em Belém, um senhor de 78 anos — que preferiu não se identificar — divide um espaço que mais parece um cenário de filme pós-apocalíptico do que um lar digno para um ser humano.
As paredes? Feitas de tábuas podres, com frestas que deixam entrar até o mais fino fio de chuva. O chão? Terra batida, que vira lama ao primeiro sinal de temporal. E o banheiro? Bom... esse é um luxo que simplesmente não existe.
Uma vida de lutas invisíveis
"Às vezes eu fico pensando se alguém ali na prefeitura sabe que eu existo", solta o idoso, enquanto arruma um pedaço de plástico que serve de teto. A fala dele — simples, direta — esconde décadas de abandono.
Os vizinhos, quando questionados, fazem aquela cara de quem já viu tanta coisa que nem se surpreende mais:
- "Todo mundo aqui sabe da situação dele, mas..." — e o silêncio que segue diz mais que mil palavras
- "Ano passado veio uma assistente social, tirou umas fotos e sumiu"
- "A gente até ajuda com o que pode, mas tá difícil pra todo mundo"
O que mais choca não é só a precariedade em si, mas o contraste: a poucos quilômetros dali, prédios novos brotam como cogumelos após a chuva. Enquanto isso, nosso protagonista — que já contribuiu com a sociedade por décadas — mal tem onde guardar seus poucos pertences.
O que dizem as autoridades?
Bem... Quando procuramos a prefeitura, recebemos aquela resposta padrão — sabe como é, né? — sobre "protocolos sendo analisados" e "recursos limitados". Mas convenhamos: nenhum orçamento municipal justifica deixar um idoso viver em condições que nem mesmo um animal de estimação mereceria.
E olha que isso não é drama — é matemática básica. O Estatuto do Idoso existe desde 2003. A Constituição garante moradia digna. Os relatórios sociais apontam o problema há anos. E ainda assim...
Enquanto isso, no Tapanã, o tempo parece ter parado. Ou pior: regredido várias décadas. O idoso, com sua dignidade intacta apesar de tudo, segue fazendo pequenos reparos no que chama de casa. Com as próprias mãos. Porque ninguém mais aparece para ajudar.