
Imagine acordar com uma sensação de ardência insuportável nos olhos, um perfume enjoativo que mais parecia uma arma química. Foi exatamente assim que uma criança, vítima de um cenário digno de pesadelo, descreveu o que viveu num suposto hotelzinho que deveria ser um local seguro.
O caso, que está deixando toda a região do Norte/Noroeste do ES em estado de choque, envolve duas funcionárias – já identificadas pela polícia como Jéssica Oliveira Santos e Luciana Almeida de Sá. Elas são acusadas de praticar uma série de atrocidades contra crianças indefesas.
Não foi nada bonito. A tia de uma das vítimas, a dona de casa Jaqueline da Silva, não consegue conter a revolta ao lembrar como tudo começou. "A gente começou a estranhar pelo cheiro forte de perfume que elas exalavam", conta, ainda tremula. O cheiro, segundo ela, vinha das próprias funcionárias, um sinal vermelho que passou despercebido no início.
O Relato que Corta o Coração
Mas a ficha só caiu de verdade quando as próprias crianças, com uma ingenuidade que dói, começaram a falar. "A tia acordou a gente com perfume nos olhos. Ardeu muito", disse uma delas, numa simplicidade que esconde um trauma profundo. Outra menina foi ainda mais específica: "Ela botou aquele negócio de cabelo, aquele que espirra, no olho da gente. E disse que ia botar álcool também".
Álcool. Perfume. O relato é de uma crueldade tão absurda que chega a ser difícil de processar. Como alguém pode fazer isso com uma criança? A pergunta fica no ar, ecoando na cabeça de qualquer um que ouve a história.
A delegada Mariana Nogueira, que comanda as investigações na 2ª DP de Colatina, não esconde a gravidade do caso. As investigações apontam para um modus operandi sádico: as suspeitas terham feito as vítimas inalarem spray de cabelo e, pasmem, álcool gel diretamente nos olhos como uma forma punitiva.
A Descoberta e a Reação
Tudo veio à tona quando Jaqueline, sua cunhada e mais duas mães notaram algo muito errado. Os filhos chegavam em casa com os olhos vermelhos, irritados, e reclamando das tias. A gota d'água foi quando uma criança chegou com marcas de beliscão pelo corpo.
Foi aí que a casa caiu. As famílias foram até o estabelecimento – que funcionava de forma irregular, sem alvará, diga-se de passagem – e confrontaram as suspeitas. A reação? Nada de desculpas. Puro e simples deboche. "Elas riam da nossa cara", desabafa Jaqueline, a voz ainda carregada da incredulidade daquele momento.
O fechamento do local foi imediato. Um alívio, mas que chegou tarde demais para as pequenas vítimas. Agora, a justiça precisa ser feita. As duas mulheres responderão pelos crimes de maus-tratos e tortura. A pena? Pode chegar a 12 longos anos de reclusão.
Enquanto isso, as crianças tentam se recuperar. O medo, aquele cheiro de perfume, a ardência… são fantasmas que vão demorar a ser exorcizados. Um lembrete sombrio de que a maldade, às vezes, se esconde onde menos esperamos: atrás de um sorriso falso e de um cheiro doce.