
Não é exagero dizer que o Alto Tietê vive um cenário preocupante. Os números, que pareciam estar sob controle, agora pintam um quadro desolador — casos de estupro de vulneráveis aumentaram de forma alarmante nos últimos meses. E o pior? Muitos sequer chegam ao conhecimento das autoridades.
O que diz a lei?
Diferente do que muita gente pensa, a legislação brasileira é bastante clara quando o assunto é proteger quem não pode se defender. O artigo 217-A do Código Penal, criado em 2009, prevê pena de 8 a 15 anos para quem comete esse tipo de crime. Mas aqui vai um detalhe que poucos conhecem: a lei considera vulnerável não só crianças e idosos, mas qualquer pessoa que, por doença mental ou condição física, não tenha capacidade de consentir.
— E sabe o que é mais revoltante? — questiona a delegada Ana Lúcia Mendes, que atua na região há 12 anos. — A maioria dos agressores são pessoas próximas da vítima. Parentes, vizinhos, conhecidos da família. É um crime que acontece dentro de casa, escondido sob o véu da confiança.
Como identificar e ajudar?
Se tem uma coisa que os especialistas insistem: ficar atento aos sinais é crucial. Mudanças bruscas de comportamento, medo inexplicável de certas pessoas ou lugares, regressão a comportamentos infantis — tudo isso pode ser um grito de socorro silencioso.
- Não force a vítima a falar: Ela precisa se sentir segura, não pressionada
- Busque ajuda profissional: Delegacias especializadas e conselhos tutelares estão preparados para acolher
- Preserve provas: Não lave roupas ou limpe o local antes da perícia
E olha só que dado preocupante: segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, apenas 10% dos casos são denunciados. O resto? Vira estatística invisível, um segredo guardado a sete chaves por medo ou vergonha.
Onde buscar ajuda no Alto Tietê?
Pra quem mora na região, alguns locais são referência no atendimento:
- Delegacia da Mulher de Mogi das Cruzes (24h)
- Conselho Tutelar de Suzano
- CRAMI (Centro Regional de Atenção aos Maus-Tratos na Infância)
— A gente vive num tempo estranho, né? — reflete a psicóloga Mariana Campos, enquanto prepara um café no escritório lotado de brinquedos terapêuticos. — Temos mais informação que nunca, mas as pessoas ainda travam na hora de pedir ajuda. Como se violência fosse algo pra se resolver entre quatro paredes.
E ela tem razão. Enquanto o assunto permanecer tabu, os números continuarão subindo. A pergunta que fica: até quando?