
Era uma manhã como qualquer outra no bairro de Jardim São Paulo, região metropolitana do Recife, até que um grito cortou o ar. "Parecia um miado fraco — aí olhei de novo e quase desmaiei", conta a diarista Maria Silva, 54 anos, que encontrou o pacote sinistro perto de um ponto de ônibus.
Dentro de um saco de lixo comum, desses de supermercado, um recém-nascido — ainda com o cordão umbilical — se debatia enrolado em trapos. O relógio marcava 7h15 quando os bombeiros chegaram, e o bebê já apresentava hipotermia. "Um minuto a mais e talvez não resistisse", disse um dos socorristas, que pediu para não ser identificado.
O que se sabe até agora:
- O menino (sim, era do sexo masculino) pesava 2,8kg e aparentava ter nascido há poucas horas
- Testemunhas afirmam ter visto uma mulher "agindo de forma estranha" no local por volta das 6h
- Hospitais da região foram acionados para verificar partos recentes
O delegado responsável pelo caso, Arnaldo Bastos, não esconde a revolta: "Isso aqui não é abandono, é tentativa de homicídio. Quem faz isso com uma criança não merece o título de mãe". A frase ecoa o sentimento dos vizinhos, que desde cedo se revezavam na delegacia para dar depoimentos.
Enquanto isso, no Hospital Barão de Lucena, onde o bebê está internado, a equipe médica brinca de "padrinhos improvisados". "Já temos três enfermeiras disputando quem vai dar o primeiro banho", conta a pediatra Dra. Lúcia Mendonça, entre sorrisos e lágrimas. O estado de saúde do recém-nascido é estável, mas ele permanece em observação.
E agora?
O Conselho Tutelar já acionou a Vara da Infância, e a previsão é que a criança seja encaminhada para um abrigo especializado assim que receber alta. Mas tem gente querendo mudar esse roteiro: "Se ninguém quiser, eu fico com ele", diz Dona Marta, 62 anos, aposentada que foi uma das primeiras a chegar no local.
Enquanto a polícia vasculha câmeras de segurança e coleta DNA do material encontrado no saco, uma pergunta paira no ar: como alguém consegue abandonar uma vida frágil como se fosse resto de comida? A resposta, infelizmente, ainda está enterrada em algum lugar entre a crueldade e o desespero.