
Imagine chegar em casa e ouvir choro de criança ecoando pelo corredor – sem nenhum adulto por perto. Foi exatamente isso que aconteceu num kitnet modesto em Cambé, no norte do Paraná, e a história é mais complexa do que parece.
A dona do imóvel, uma senhora que preferiu não se identificar, não aguentou ouvir o pranto insistente da pequena – que mal completara um ano de vida – e decidiu agir. Preocupada, afinal, o barulho vinha de uma unidade alugada para uma jovem de apenas 16 anos, ela não pensou duas vezes: chamou a polícia.
E o que os PMs encontraram ao abrir a porta, na tarde da última segunda-feira (2), foi de cortar o coração. A menina estava completamente sozinha, rodeada por fraldas sujas e uma mamadeira vazia. A sujeira pelo ambiente era evidente, e a pequena, assustada e chorosa. Uma cena de total abandono.
O desenrolar de um drama anunciado
Agora, como uma adolescente chega a ser mãe tão cedo e acaba sozinha, criando uma criança num kitnet? A pergunta que não quer calar. A verdade é que a vida prega peças duras, e essa garota, cuja identidade foi preservada por ser menor, já tinha uma história complicada.
Pouco depois do resgate, a mãe adolescente apareceu. E a justificativa? Diz que saiu para resolver coisas na rua e deixou a filha «só por um pouquinho». Só que esse «pouquinho» foi tempo suficiente para o susto e para a denúncia. A Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) de Londrina já está com o caso nas mãos.
Ah, e tem mais: a própria avó da criança – sim, a mãe da adolescente – já tinha a guarda provisória da neta. Mas, num daqueles arranjos familiares conturbados que a gente conhece, a bebê estava com a mãe biológica na hora do ocorrido. Uma confusão danada, pra ser sincero.
E agora, o que vai acontecer?
A adolescente foi indiciada por abandono de incapaz. Um crime grave, que pode render até anos de detenção. Enquanto isso, a filha foi levada para um abrigo em Londrina – longe do ambiente de risco, pelo menos por enquanto.
O caso escancara uma realidade que muitos ignoram: a solidão e o despreparo de mães cada vez mais jovens, sem rede de apoio, sem estrutura e, muitas vezes, sem rumo. Não tiro a responsabilidade dela, claro que não. Abandonar uma criança é inadmissível. Mas também me pergunto: cadê o apoio que deveria existir antes que uma tragédia assim aconteça?
Enquanto a Justiça decide os próximos passos, duas vidas seguem em suspenso: a de uma menina que mal começou a viver e a de uma adolescente que, claramente, também precisava de cuidado.