
Quase três décadas se passaram — tempo suficiente para uma criança nascer, crescer e ter filhos. Mas o braço da lei, teimoso como inverno no cerrado, nunca esqueceu. Nesta segunda-feira (15), Brasília testemunhou algo que muitos já consideravam impossível: o réu mais antigo da capital, foragido desde o século passado, finalmente diante da justiça.
O caso tem gosto de novela das nove — e um elenco digno de Oscar. De um lado, um acusado que virou lenda urbana, sumido desde 1999. Do outro, investigadores que trocaram de gerações sem abandonar o arquivo amarelado. No meio, uma vítima que jamais viu seu algoz responder pelos atos.
Como o 'fantasma' foi encontrado?
Parece roteiro de filme, mas foi paciência de formiga. A polícia — que prefere não revelar detalhes operacionais — garante que tecnologia nova ajudou, mas foi mesmo a velha e boa inteligência humana que fez a diferença. Alguém, em algum lugar, soltou a língua depois de anos.
"Tem casos que grudam na pele", confessa um delegado aposentado que pediu anonimato. "Esse era nosso Moby Dick particular."
O crime que não prescreveu
O processo judicial — mais velho que alguns estagiários do fórum — trata de um homicídio ocorrido nos anos 90. Na época, a capital federal ainda respirava ares de cidade nova, e o crime chocou pela brutalidade. O réu, então com 32 anos, desapareceu como fumaça após conseguir liberdade provisória.
- 1999: Data da última vez que foi visto
- 25: Anos de fuga ininterrupta
- 3: Número de delegados que comandaram a investigação
Curiosamente, o tempo trabalhou contra o fugitivo. Enquanto ele envelhecia — e talvez baixava a guarda —, a tecnologia forense dava saltos. Bancos de dados digitais, reconhecimento facial e até redes sociais viraram aliados da investigação.
E agora, José?
O julgamento promete ser um capítulo à parte. Testemunhas? Algumas morreram. Prova material? Parte se perdeu no tempo. A defesa — que assumiu o caso há poucas semanas — já sinaliza questionar a legalidade de algumas etapas do processo.
E a vítima? Familiares compareceram ao fórum com fotos amareladas. "Justiça tardia é melhor que impunidade", resmungou um sobrinho, nascido depois do crime.
Enquanto isso, nos corredores do tribunal, funcionários veteranos cochicham. Afinal, quantos processos dessa idade ainda respiram? O caso virou peça de museu — e agora, finalmente, ganhará seu epílogo.