
Numa cena que mais parecia saída de um filme dramático, o senador Magno Malta (PL-ES) transformou o plenário do Senado em palco de um protesto solitário e impactante nesta quarta-feira. Com correntes presas ao pescoço e às mãos — sim, você leu certo — o parlamentar bolsonarista encenou o que chamou de "grito de alerta" contra a votação do marco temporal de terras indígenas.
"Estou aqui acorrentado como os indígenas estão sendo acorrentados por essa decisão", declarou Malta, com a voz embargada, enquanto segurava um crucifixo. A performance, digna de um ator premiado, durou cerca de 20 minutos e paralisou os trabalhos legislativos.
Reações divididas
Enquanto alguns colegas aplaudiam de pé, outros rolavam os olhos — literalmente. O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) não perdeu a chance de ironizar: "Agora faltam só as coroas de espinhos". Já a bancada governista preferiu ignorar o espetáculo, como quem vê um parente embaraçoso em festa de família.
Por trás do teatro político, a briga é séria: o marco temporal define que só terras ocupadas por indígenas na data da promulgação da Constituição (5/10/1988) podem ser demarcadas. Para Malta e aliados, a mudança em discussão seria "uma facada nas costas do agronegócio". Do outro lado, defensores dos povos originários argumentam que a tese ignora séculos de violências e expulsões.
Efeito contrário?
Analistas políticos arriscam dizer que o protesto radical pode ter efeito inverso ao desejado. "Quando você exagera na dramatização, corre o risco de transformar um debate complexo em caricatura", observa o cientista político João Feres Junior, da UERJ. Nas redes sociais, as reações foram tão intensas quanto previsíveis: de "herói" a "palhaço", passando por tudo que há no meio.
Enquanto isso, no corredores do Congresso, a pergunta que não quer calar: será que vamos ver mais dessas performances nos próximos meses? Considerando o clima político atual, melhor irmos nos acostumando — ou trazermos pipoca.