
Numa manhã que começou com o barulho de botas pesadas batendo no asfalto, a Polícia Federal colocou em ação um plano minucioso para desmantelar o que descreve como "uma rede organizada de sangria do erário". O alvo? Nada menos que o ex-prefeito de Bebedouro, no interior paulista, acusado de liderar um esquema que transformou verbas da saúde em fonte de enriquecimento ilícito.
Segundo investigadores, o montante desviado — calculado em milhões — deveria ter sido usado para equipar hospitais, comprar medicamentos e melhorar a estrutura de postos de saúde. Em vez disso, teria financiado uma vida de luxo para os envolvidos. "É como se tivessem colocado um canudo no orçamento público e sugado até a última gota", comentou um delegado sob condição de anonimato.
Modus operandi criativo (e criminoso)
Os investigadores detalham um esquema que misturava:
- Notas fiscais frias — algumas de empresas que sequer existiam
- Superfaturamento escancarado — R$ 200 por uma caixa de luvas que custaria R$ 40
- "Serviços fantasmas" — como reformas de unidades de saúde que nunca saíram do papel
O mais revoltante? Enquanto o esquema rolava solto, moradores reclamavam da falta de médicos, remédios básicos e até de luvas em postos de saúde. "A gente via os políticos aparecendo em inaugurações com sorriso de vitória, enquanto nossos parentes morriam por falta de atendimento", desabafou uma enfermeira que preferiu não se identificar.
As consequências humanas
Não são apenas números num relatório. Histórias como a de dona Maria, 72 anos, que perdeu o marido enquanto esperava por uma cirurgia cardíaca adiada 11 vezes por "falta de condições", ilustram o custo real desses desvios. Ou do pequeno Miguel, que contraiu infecção hospitalar num posto sem condições básicas de higiene.
A operação — batizada ironicamente de "Placebo" pelos investigadores — incluiu:
- 11 mandados de busca e apreensão
- 5 prisões temporárias
- Congelamento de bens no valor de R$ 8,7 milhões
O ex-prefeito, que hoje ocupa cargo em outra esfera do poder público, nega veementemente as acusações. "Isso é perseguição política", declarou através de seu advogado, prometendo "provar a inocência no tribunal".
Enquanto isso, os moradores de Bebedouro acompanham o caso com um misto de esperança e ceticismo. "Já vimos esse filme antes", comenta um comerciante local. "No final, os peixes pequenos pagam o pato, e os grandes viram estatística de impunidade."