
Não é segredo para ninguém que o tráfico de drogas no Brasil tem endereço certo — e, pasme, não são as grandes metrópoles. O interior de São Paulo, aquela região que muitos imaginam pacata e bucólica, virou o epicentro do comércio ilegal de entorpecentes no país. A Polícia Civil acaba de revelar um dado que dá arrepios: 70% do volume total de drogas que circula por aqui passa pelas estradas e cidades do interior paulista.
Parece ironia, mas a chamada "Rota Caipira" — que corta municípios como Campinas, Limeira e Piracicaba — se transformou no coração pulsante do narcotráfico nacional. Enquanto as atenções se voltam para as favelas do Rio ou as fronteiras do Norte, os traficantes fazem a festa nas rodovias que cortam o estado mais rico do país.
O caminho das pedras (verdes)
Segundo os investigadores, a estratégia é brilhante — no sentido mais perverso da palavra. As drogas chegam pelo Paraguai e Bolívia, entram pelo Mato Grosso do Sul, e dali seguem para São Paulo. Mas não para a capital: o destino final é o interior, onde a fiscalização é menos rígida e a infraestrutura logística, de dar inveja a muitas empresas legítimas.
- Estima-se que 40 toneladas de maconha e 1 tonelada de cocaína circulem mensalmente
- As apreensões aumentaram 300% nos últimos 5 anos na região
- Mais de 100 municípios estão na rota do tráfico
"É como se o agronegócio do crime tivesse encontrado seu celeiro ideal", brinca (sem graça) um delegado que prefere não se identificar. A piada tem fundo de verdade: armazéns rurais abandonados e propriedades agrícolas são frequentemente usados como pontos de redistribuição.
Campinas: o hub do tráfico
Se fosse uma empresa, Campinas seria a matriz — a localização privilegiada, com acesso a várias rodovias importantes, faz da cidade um nó logístico perfeito. A Polícia Civil identificou que 30% de toda a droga que passa pelo interior tem conexão com a região. Não à toa, os números de apreensão por lá são dignos de recorde.
Mas calma, não é só a geografia que explica o fenômeno. A corrupção de agentes públicos, a falta de efetivo policial e — quem diria — até a qualidade das estradas contribuem para esse cenário. "Temos rodovias melhores que muitas capitais do Nordeste", comenta um investigador, "e os caras usam isso a favor deles".
O que mais assusta? A sofisticação. Os traficantes usam sistemas de monitoramento por câmeras, aplicativos de comunicação criptografada e até técnicas de inteligência para despistar a polícia. Parece roteiro de filme, mas é a pura realidade do crime organizado em pleno século XXI.