
Era um esquema tão bem armado que até os anjos duvidariam. Em Santa Catarina, uma empresa disfarçada de "movimento religioso" montou uma rede sofisticada para sugar o dinheiro de fiéis inocentes — tudo em nome da fé. A Polícia Civil escancarou o golpe nesta semana, e a história parece saída de um roteiro de filme.
O véu da santidade
Com sede em Blumenau, a tal "Piramide da Fé" — ironia ou profecia no nome? — operava desde 2020 prometendo milagres financeiros. "Doe para obras divinas e receba sete vezes mais", pregavam. Só que o único multiplicando era o saldo nas contas dos líderes.
Detalhe que corta o coração: os alvos preferenciais eram idosos e pessoas em situação vulnerável. Usavam linguajar bíblico para convencer — quem desconfiaria de um "irmão" citando Salmos enquanto esvazia sua conta?
Modus operandi celestial
- Cultos-empresa: Reuniões semanais em igrejas alugadas, com direito a louvorzão e... planilhas de Excel projetadas
- Testemunhos fabricados: Atores contratados para contar como "enriqueceram" com o sistema
- Pressão psicológica: Quem questionava era taxado de "fraco na fé"
Um delegado envolvido na operação, que pediu para não ser identificado, resumiu: "Eles criaram uma seita financeira. No lugar de água benta, usavam transferências PIX".
Queda do "anjo" empreendedor
O suposto mentor — um ex-vendedor de pirâmides tradicionais que descobriu que vestir terno branco dava mais credibilidade — já está com os pés na terra. A polícia rastreou R$ 3,8 milhões desviados para compra de imóveis de luxo e até uma coleção de relógios suíços.
E olha só o nível da cara de pau: os investigados alegam que as doações eram "espontâneas". Só esqueceram de avisar que "espontâneo", no dicionário deles, significava "sob coação emocional".
Enquanto isso, vítimas como Dona Marta, 72 anos, perderam economias de vida inteira. "Pensei que estava ajudando a construir o reino dos céus", disse chorando. O reino, no caso, era um apartamento triplex no litoral catarinense.