
Era uma terça-feira comum em Guarulhos quando o silêncio foi quebrado por um crime que chocaria até os mais endurecidos. Um funcionário do aeroporto internacional - cujo nome permanece em sigilo por segurança da família - teve a coragem de denunciar um esquema de tráfico que operava nas entranhas do terminal. Pagou com a vida.
Dois anos depois, a Justiça finalmente deu seu veredito: R$ 1,2 milhão de indenização para os familiares. Não traz de volta um pai, um marido, um filho. Mas é, nas palavras do juiz responsável, "um reconhecimento do Estado pela falha em proteger quem ousou proteger os outros".
O preço da coragem
Detalhes do caso:
- O funcionário trabalhava na área de carga há 8 anos quando identificou irregularidades
- Denúncia formal foi feita em março de 2023
- Dois meses depois, foi encontrado morto com sinais de tortura
- Investigadores encontraram ligação direta com a denúncia
"Eles sabiam que ele sabia", contou uma fonte próxima à investigação, em tom que misturava raiva e resignação. O esquema - que envolvia desde agentes de solo até supostos funcionários de empresas terceirizadas - usava compartimentos ocultos em veículos de serviço para transportar drogas.
Repercussão e medidas
A tragédia gerou comoção e uma série de mudanças:
- Criação de canal anônimo reforçado para denúncias
- Triagem mais rigorosa de funcionários terceirizados
- Instalação de scanners adicionais nas áreas de carga
Mas será suficiente? Especialistas em segurança aeroportuária são céticos. "Enquanto houver demanda, haverá quem se arrisque", alerta um ex-delegado da Polícia Federal, pedindo para não ser identificado. "É como tentar tapar o sol com a peneira."
A família, agora sob proteção do programa de testemunhas, tenta reconstruir a vida longe dali. A indenização - paga pela concessionária do aeroporto e pelo governo estadual - será dividida entre a viúva e os dois filhos menores. "Dinheiro não apaga a dor, mas dá alguma dignidade", resumiu o advogado da família.