
O clima que deveria ser de pura emoção esportiva virou um pesadelo para um fotógrafo durante o jogo entre Bangu e Portuguesa no último domingo. No meio da arquibancada, entre gritos de torcida e o barulho dos tambores, veio o golpe baixo: xingamentos racistas direcionados ao profissional que apenas cumpria seu trabalho.
"Foi como levar um soco no estômago", desabafa o fotógrafo, que prefere não revelar seu nome por medo de represálias. Ele conta que ouviu ofensas como "macaco" e "volta pra senzala" vindo de um grupo de torcedores. "Parecia que o tempo congelou. Num estádio cheio, me senti completamente sozinho."
O que aconteceu depois do jogo?
Diferente do que muitos imaginariam, o fotógrafo não ficou parado. Anotou características dos agressores, procurou a segurança do estádio e, no dia seguinte, registrou ocorrência na 35ª DP (Praça Seca). O caso agora é investigado como injúria racial - crime que pode render de 1 a 3 anos de prisão.
Nas redes sociais, o episódio gerou uma enxurrada de comentários. De um lado, torcedores indignados com a atitude dos agressores. De outro, quem ainda tenta minimizar, dizendo que "era brincadeira". Será? Pra quem é alvo, ofensa racial nunca é piada.
Não é o primeiro caso
Infelizmente, esse não é um incidente isolado no futebol carioca. Só neste ano, já foram registrados pelo menos outros três casos similares em jogos da Divisão de Acesso. E olha que a temporada mal começou...
- Em março, um árbitro foi chamado de "cabelo de Bombril"
- Em abril, uma torcedora negra ouviu que "deveria estar lavando roupa"
- Em maio, um jogador foi comparado a um "orangotango"
Os clubes envolvidos prometem punições, mas até agora? Nada concreto. Enquanto isso, as vítimas seguem marcadas por essas experiências traumáticas.
O que diz a lei?
Pra quem acha que isso é "mimimi", a legislação brasileira é clara: injúria racial está prevista no artigo 140, §3º do Código Penal. Diferente do racismo (que é crime inafiançável), a injúria envolve ofensas direcionadas a uma pessoa específica com base em raça, cor, etnia ou religião.
Mas aqui vai um pulo do gato: se ficar comprovado que os xingamentos foram proferidos pra um grupo maior (como toda a torcida do Bangu, por exemplo), o crime pode ser requalificado como racismo. Aí o bicho pega de verdade.
Enquanto a investigação corre, o fotógrafo promete não se calar: "Quero que sirva de exemplo. Ninguém merece passar por isso, seja no futebol, no trabalho ou na rua". E ele tá mais que certo.