
Nunca um silêncio tão eloquente ecoou tanto pelos corredores do Festival de Veneza. Na noite de quarta-feira, algo extraordinário aconteceu: quinze minutos. Quinze longos, intensos e completamente ininterruptos minutos de aplausos que não queriam calar.
O responsável? No Exile, Within, documentário palestino que mergulha de cabeça no conflito israelense-palestino através da história de uma criança – Wissam – cuja vida foi brutalmente interrompida por um ataque aéreo israelense em Gaza.
Dirigido pelo corajoso Mohammed Almughanni, o filme não é apenas um registro, mas uma experiência sensorial que te arrasta para dentro da realidade distópica de Gaza. E olha, é de cortar o coração.
Mais Que Um Filme: Um Grito de Dor
O que faz essa obra ser tão poderosa? Talvez seja a forma crua como captura a vida – e a morte – sob os escombros. As câmeras seguem Wissam dias antes da tragédia, mostrando sonhos de infância que jamais se realizarão. É impossível não se emocionar.
E não sou só eu dizendo. A plateia em Veneza – crítica, dura, acostumada a ver de tudo – simplesmente capitulou. Gente chorando, aplaudindo de pé, num consenso emocional raríssimo no cinema contemporâneo.
Um Ato de Coragem Cinematográfica
Produzir isso em meio ao conflito? Meu Deus, foi praticamente um milagre. Almughanni e sua equipe arriscaram tudo – literalmente – para capturar imagens que o mundo precisa ver. E o resultado é assustadoramente belo, apesar da tragédia que retrata.
O diretor, visivelmente abalado durante a exibição, confessou depois: "Não foi fácil. Cada frame carrega a dor de um povo, mas também sua resistência incrível". E isso transborda na tela.
Repercussão Imediata e Polêmica
Claro, um tema tão espinhoso não poderia passar sem controvérsia. Enquanto a plateia aplaudia, vozes críticas já se levantavam nas redes sociais – alguns questionando a "politização" do festival, outros defendendo a necessidade urgente dessas narrativas.
Mas uma coisa é certa: o festival de cinema virou palco de um debate muito maior. Sobre humanidade. Sobre até onde a arte pode – e deve – ir para nos fazer encarar realidades inconvenientes.
O que vem pela frente? Difícil dizer. Mas No Exile, Within já garantiu seu lugar na história – não apenas pelo recorde de aplausos, mas por lembrar a todos nós que, por trás das estatísticas de guerra, existem rostos. Histórias. Sonhos interrompidos.
E talvez, só talvez, o cinema ainda possa mudar um pouquinho o mundo.