
Imagine abrir a porteira de uma propriedade e se deparar com aquele silêncio pesado, que mais parece um grito. Foi exatamente isso que uma equipe de fiscais do IAGRO encontrou numa fazenda em Deodápolis, aqui no Mato Grosso do Sul. A cena era de cortar o coração – e olha que esses profissionais já estão acostumados com coisas ruins.
Mais de setecentos bichos, gente. Setecentos! Bovinos, equinos, suínos e ovinos, todos jogados à própria sorte, definhando num verdadeiro pesadelo. A água disponível? Uma lama verde e nojenta, imprópria até para um rato. E comida? Esquece. Os que sobreviviam disputavam uns ossos e restos miseráveis. Um verdadeiro campo de concentração animal.
Negligência Absoluta e Sofrimento Incalculável
Os detalhes são de doer. Animais extremamente magros, fracos, com as costelas e a bacia escancaradas sob a pele. Muitos nem sequer tinham força para se levantar. Doenças de pele, parasitas internos e externos… um completo abandono. Alguns bezerros já tinham virado estatística, mortos e deixados para apodrecer a céu aberto. É de uma crueldade que chega a ser difícil de processar.
O pior de tudo? O tal proprietário simplesmente sumiu. Não apresentou nenhum tipo de documento que comprovasse a origem do rebanho, o que por si só já é gravíssimo. Sumiu do mapa e deixou toda aquela vida para trás, como se fosse lixo. Isso não é ser fazendeiro, é ser algo muito pior.
Uma Multa que Esperneia
O resultado não poderia ser diferente. Um belo de um prejuízo no bolso: R$ 3.685.000,00. Sim, você leu certo. Três milhões, seiscentos e oitenta e cinco mil reais. Uma das maiores multas aplicadas pelo IAGRO nos últimos tempos, e merecidíssima, diga-se de passar.
E não para por aí. O dono da terra ainda vai ter que responder na Justiça pelos crimes de maus-tratos (aquele famoso artigo 32 da Lei de Crimes Ambientais) e por impedir a fiscalização. Ou seja, a conta ainda vai ficar mais salgada. A gente até torce para que doa.
Casos assim mostram que a fiscalização está de olho, mas também escancaram um problema persistente. A sensação de impunidade ainda é grande no campo, mas multas estratosféricas como essa mandam um recado claro: crime animal não vai ficar barato. O trabalho do IAGRO e da Polícia Militar Ambiental foi primoroso, mas é só o começo de uma longa batalha.
Enquanto isso, a pergunta que fica é: até quando vamos tolerar que seres sencientes sejam tratados como meros objetos de lucro? O que aconteceu em Deodápolis é um lembrete sombrio de que a luta pelo bem-estar animal está longe do fim.