
Era uma cena que até o mais endurecido dos inspetores teria dificuldade em digerir. Numa casa aparentemente comum de Iguaba Grande, no interior do Rio, dezenas de cães — alguns magérrimos, outros com feridas expostas — dividiam espaços imundos, sem água potável ou comida decente. Quem passasse pela rua nem desconfiaria do pesadelo ali dentro.
Segundo fontes próximas ao caso, a situação veio à tona depois que um vizinho, incomodado com o cheiro forte e latidos constantes, resolveu ligar para o Disque-Denúncia. "Parecia um daqueles documentários chocantes, sabe? Só que era aqui do lado", contou ele, preferindo não se identificar.
Operação de resgate
Quando as equipes chegaram, levaram um susto. Cerca de 15 animais — a maioria vira-latas, mas também algumas raças específicas — estavam confinados em áreas pequenas, com fezes acumuladas e restos de comida estragada espalhados pelo chão. Dois filhotes sequer conseguiam ficar em pé direito.
"É daquelas coisas que a gente nunca se acostuma", admitiu uma veterinária que participou da ação, enquanto enfaixava as patas de um cãozinho idoso. "Alguns têm sinais claros de desnutrição prolongada. Outros, infecções de pele por falta de higiene básica."
O que diz a lei
Pela legislação brasileira, maus-tratos contra animais é crime previsto no artigo 32 da Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/98). A pena? Multa e detenção de três meses a um ano. Mas aqui está o problema: muitas vezes, os casos ficam apenas na multa — quando não arquivados por falta de provas.
Desta vez, porém, a coisa pode ser diferente. Com as imagens chocantes e laudos veterinários detalhados, o Ministério Público já sinalizou que vai entrar com ação. "Temos testemunhas, provas materiais e, claro, as vítimas que não podem falar, mas cujas condições gritam por justiça", comentou um promotor envolvido.
E agora, os animais?
Os peludos resgatados foram levados para um centro de zoonoses temporário, onde receberam os primeiros cuidados. Alguns, os mais debilitados, precisaram de internação imediata. ONGs locais já se mobilizaram para ajudar — seja com doações de ração, medicamentos ou até mesmo lares temporários.
"É revoltante, mas também é esperançoso ver a solidariedade", reflete uma voluntária enquanto acaricia um dachshund recém-resgatado. "Esses anjos de quatro patas merecem uma segunda chance."
Enquanto isso, o suposto responsável pelo imóvel — um homem de cerca de 50 anos — foi identificado e deve responder criminalmente. A vizinhança, que antes só ouvia os latidos, agora torce para que essa história tenha um final feliz.