
Imagine o desespero. Noventa minutos que parecem uma eternidade dentro de um forno sobre rodas. Foi exatamente isso que dois cães viveram - e não sobreviveram - nesta terça-feira, 23, em São Paulo. Um caso que vai muito além do acidente, beirando a negligência criminosa.
A dona, uma mulher que confiou um serviço de banho e tosa ao estabelecimento, jamais poderia prever o desfecho trágico. Os animais foram transportados em um carro da empresa, um Fiat Mobi, que se transformou numa armadilha mortal. O motorista, segundo relatos, simplesmente... esqueceu-os lá. Sim, esqueceu.
O calor na cidade naquele dia era implacável, beirando os 30°C. Dentro de um veículo fechado, a temperatura pode disparar para níveis insuportáveis em minutos. Uma verdadeira sauna metálica. Os bichinhos, indefesos, não tinham para onde escapar.
O que se seguiu foi um pesadelo
Quando a funcionária notou a ausência dos animais no pet shop, o alerta soou. Uma busca frenética começou. Onde estariam? A terrível verdade foi descoberta no estacionamento. Lá estava o carro. E dentro dele, os dois cães, já sem vida. O choque, a incredulidade. Como algo assim pode acontecer?
"Eles eram como filhos para mim", deve ter pensado a tutora, ao receber a notícia devastadora. A dor de perder um animal de estimação nessas circunstâncias é uma facada. A revolta, justíssima. Ela não poupa palavras: foi negligência, pura e simples. E agora, quer que a responsabilidade seja apurada até as últimas consequências.
E a lei, onde fica nisso tudo?
O caso foi parar na Delegacia Eletrônica de Proteção Animal (Depa). Um boletim de ocorrência foi registrado, e as investigações estão só no começo. A empresa dona do pet shop emitiu uma nota – aquelas típicas de "lamentamos profundamente" – e diz que está apurando os fatos internamente. Mas será que isso basta? Será que resolve?
Especialistas são unânimes: deixar um animal dentro de um carro fechado, principalmente num dia quente, é uma sentença de morte. É algo que deveria ser do conhecimento básico de qualquer um que trabalhe com transporte animal. A pergunta que fica, e que não quer calar: onde estava o protocolo? Onde estava o treinamento?
Este triste episódio serve como um alerta sombrio para todos nós. A confiança que depositamos em estabelecimentos que cuidam dos nossos pets não pode ser quebrada dessa forma brutal. Exigir processos seguros, funcionários treinados e responsáveis não é um luxo, é um direito básico.
A dor dessa tutora é um lembrete cruel. Um lembrete de que a negligência, por mais banal que pareça, tem consequências irreversíveis. E que, no fim das contas, a justiça para os que não podem falar precisa ser feita – nem que seja aos gritos.