
Eis que o Rio de Janeiro se vê novamente no centro de uma daquelas polêmicas que fazem a gente coçar a cabeça e pensar: 'será que é déjà vu?'. O programa 'Balcão do Consumidor', uma iniciativa que deveria facilitar a vida do carioca, está sendo relançado sob uma névoa de desconfiança.
Parece piada pronta, mas não é. A Fundação Ceperj — aquela mesma que já esteve no olho do furacão por investigações anteriores — está por trás desse projeto que custou nada menos que R$ 295 mil aos cofres públicos. E olha que o contrato foi assinado em março, mas só agora a coisa veio à tona.
O que é esse tal programa?
Em teoria, uma maravilha: o 'Balcão do Consumidor' seria uma rede de postos físicos espalhada por 17 regionais do Procon-RJ. A ideia era oferecer serviços de proteção ao consumidor de forma descentralizada, mais acessível para quem não pode ir até a capital.
Mas entre o dizer e o fazer... bem, sabemos que existe um oceano de diferença. O projeto original foi criado ainda na gestão de Wilson Witzel e continuou sob Cláudio Castro. E adivinhem? Já estava sendo investigado pelo Ministério Público do Estado do Rio (MPRJ) desde 2023.
A volta por cima que ninguém pediu
O mais curioso — ou preocupante, depende do seu nível de cinismo — é que o programa está sendo relançado exatamente quando a Ceperj mais precisa demonstrar transparência. A fundação responde a um processo administrativo que questiona justamente a legalidade desse contrato milionário.
Não é ironico? Criar um programa de defesa do consumidor com recursos cuja origem está sob investigação. Quem defende os consumidores dos defensores dos consumidores?
Os números que deixam a pulga atrás da orelha
R$ 295.000,00. Essa é a quantia gasta com a empresa Ânima Educação, contratada para desenvolver a identidade visual do projeto. Uma grana preta para criar uma logo e um manual de identidade visual, não acham?
O pior: o edital foi do tipo 'tecnologia e preço' — aquele onde a menor proposta leva, independente da qualidade. E a Ânima venceu, imagine só, sendo a única concorrente. Conveniente, não?
O silêncio que fala mais alto
Procuradas, neither a Ceperj nem a Secretaria de Estado de Direito do Consumidor (SENACON) se manifestaram sobre o caso. O governo do estado, então, nem se fala — preferiu o conforto do mutismo.
Enquanto isso, o MPRJ continua com as investigações a pleno vapor. E nós, contribuintes, ficamos aqui nos perguntando quando é que a gente vai parar de bancar projetos que nascem com pedigree duvidoso.
No fim das contas, o que mais me preocupa não é só o dinheiro gasto — embora isso já seja grave o suficiente. É a naturalização com que tratamos esses casos, como se fosse normal que serviços públicos nascessem sob o signo da desconfiança.
O Rio merece mais. Muito mais.