
Imagine correr contra o tempo para salvar vidas, mas ter que lutar contra a falta de estrutura básica. É assim que se sentem os profissionais do SAMU em Canoas, no Rio Grande do Sul. A realidade deles? Veículos que mais parecem sucatas, equipamentos que faltam mais do que aparecem e uma carga de trabalho que deixaria qualquer um de cabelo em pé.
"A gente vira um MacGyver da saúde", brinca um socorrista, com aquela risada amarga de quem já perdeu a conta das gambiarras feitas para manter as ambulâncias funcionando. Só que não tem graça quando o assunto é vida humana.
O dia a dia no limite
Três turnos intermináveis, chamados que não param de chegar e a sensação constante de estar enxugando gelo. Os relatos dos funcionários pintam um quadro desolador:
- Ambulâncias com mais de 300 mil km rodados - algumas literalmente caindo aos pedaços
- Falta crônica de materiais básicos como luvas e máscaras
- Equipamentos de emergência quebrados ou inexistentes
- Plantões de 24 horas sem condições mínimas de descanso
"Já peguei plantão com a ambulância sem maca. Teve que improvisar com tábua e cinto", conta uma técnica de enfermagem, os olhos cheios daquela mistura de raiva e resignação que só quem vive na pele conhece.
Risco para pacientes e profissionais
Aqui vai o pulo do gato: quando o SAMU falha, quem paga a conta é sempre o mesmo - o cidadão que precisa de socorro. E os números assustam:
Em junho, o tempo de resposta para casos graves ultrapassou o dobro do recomendado em 40% das ocorrências. Traduzindo: minutos preciosos que separam a vida da morte.
Do outro lado da moeda, os profissionais desenvolvem problemas de saúde física e mental. "Virou rotina colegas chorando no banheiro", desabafa um condutor de ambulância. Síndrome de Burnout? Aqui chamam de "segunda-feira".
O que diz a prefeitura?
Procurada, a administração municipal reconheceu "pontuais dificuldades operacionais", mas garantiu que está trabalhando para melhorar a situação. Enquanto isso, os heróis anônimos do SAMU seguram as pontas como podem.
Uma coisa é certa: na hora do desespero, todo mundo quer um SAMU eficiente. Mas será que estamos fazendo nossa parte para que esses profissionais tenham condições mínimas de trabalho? Pergunta que não quer calar...