
Enquanto a maioria dos colegas prefere a discrição — para não dizer a opacidade — na hora de definir onde aplicar suas emendas, o deputado Felipe Sousa (PL-RS) resolveu nadar contra a corrente. E que corrente! A sua metodologia é simples, mas revolucionária para os padrões de Brasília: todas as decisões sobre o destino dos recursos são tomadas através de votações públicas e abertas à participação popular.
Nada de reuniões fechadas, acordos de gabinete ou aquelas conversas de corredor que todo mundo desconfia mas ninguém consegue provar. O parlamentar criou um sistema onde as prefeituras e entidades precisam literalmente fazer campanha e convencer a população dos seus projetos.
Como funciona na prática?
Imagine a cena: em vez de um telefonema discreto decidindo milhões, há prazos, regras claras e — pasmem — disputa aberta. Os municípios do seu estado apresentam propostas, que são publicadas num portal transparente. Aí começa o debate público. E o mais incrível: a comunidade vota. Sim, como num reality show, mas com verba pública em jogo.
"A gente precisa recuperar a credibilidade da política", defende Sousa, com a convicção de quem sabe estar fazendo algo fora da curva. "Quando escondemos como decidimos, alimentamos a desconfiança que corrói nossa democracia."
Os números que impressionam
Só este ano, o modelo diferente já destinou R$ 4,3 milhões através de 17 votações abertas. Projetos de saúde, educação, infraestrutura — tudo decidido a céu aberto. Enquanto isso, na velha política, as emendas de relator-geral continuam sendo aquela caixa-preta que todo mundo critica mas ninguém abre.
O que mais chama atenção é o contraste com a prática comum no Congresso. Enquanto a maioria prefere o caminho mais fácil — e menos transparente — das emendas de relator-geral, onde o critério é muitas vezes a lealdade partidária ou acordos políticos, o deputado gaúcho insiste em colocar a população no comando.
E os colegas de parlamento?
Alguns torcem o nariz, claro. Dizem que o processo é "lento" ou "inviável em grande escala". Mas será que a agilidade vale a falta de transparência? Outros, mais discretos, admitem que a pressão por seguir o exemplo está aumentando. Afinal, como explicar para seus eleitores que um colega abre suas decisões enquanto eles mantêm tudo em sigilo?
O fato é que a iniciativa chega num momento crucial. A sociedade está de olho — e cada vez mais exigente com a qualidade do gasto público. Num país onde a desconfiança nas instituições bate recordes, gestos concretos de transparência não são apenas bem-vindos: são urgentes.
Resta saber se a semente plantada pelo deputado vai germinar em outros cantos do Congresso. Ou se vai continuar sendo uma exceção quase folclórica no cenário político brasileiro. Uma coisa é certa: o exemplo está dado. E a bola agora está com os colegas.