
Pois é, parece que foi ontem, mas já se vão dez anos. Uma década desde que esse visitante nada bem-vindo – o vírus da chikungunya – decidiu fincar pé por aqui, no Brasil. E olha, a situação longe de estar controlada, segue dando um trabalhão danado para as autoridades e, claro, causando um sofrimento imenso na população.
O mais preocupante? A gente talvez nem esteja enxergando a real magnitude do problema. A subnotificação de casos é uma faca de dois gumes: por um lado, mascara a verdadeira gravidade; por outro, dificulta – e muito – a implementação de políticas públicas eficazes de combate. É como tentar lutar contra um fantasma.
As Sequelas que Ninguém Conta Direito
Ah, e não caia nessa conversa fiada de que é "só uma dengue mais fraca". Que nada! A fase aguda, com aquelas dores articulares insuportáveis que deram o nome à doença («aquele que se dobra», em swahili), já é um pesadelo. Mas o que realmente tira o sono dos médicos são as crônicas. Imagine conviver com dores nas juntas por meses… quiçá anos. Uma realidade incapacitante para milhares de brasileiros.
– É uma doença traiçoeira – comenta um infectologista, que prefere não se identificar. – A pessoa até se livra da febre, mas fica refém da dor. Muitos perdem emprego, veem sua qualidade de vida ir por água abaixo. E o sistema não está preparado para essa enxurrada de sequelas.
O Inimigo Doméstico (e Bem Conhecido)
O transmissor, todo mundo já conhece: o famoso Aedes aegypti. O mesmo mosquito da dengue e da zika. Isso mesmo, aquele vizinho chato que se reproduz na água parada do vaso de planta, da garrafa pet esquecida no quintal e na calha entupida. O combate a ele, convenhamos, é uma guerra que a gente vem perdendo feio. Estrategicamente.
O calor tropical e a urbanização desorganizada criaram o cenário perfeito para uma tempestade perfeita de arboviroses. E a chikungunya encontrou aqui o seu paraíso. O que era para ser uma emergência pontual virou um problema endêmico, crônico. E caro, muito caro para o SUS.
E Agora, José?
A pergunta que fica é: para onde vamos daqui? A sensação entre muitos especialistas é de uma certa… frustração. Dez anos se passaram e ainda estamos navegando à deriva, reagindo a surtos em vez de preveni-los de forma contundente.
Investimento em pesquisa, educação pública de verdade (e não apenas campanhas de verniz) e um combate vetorial inteligente e contínuo – eis a tríade esquecida. Enquanto isso não for tratado como prioridade nacional, e não apenas como um problema sazonal, vamos continuar nessa roda-viva. E a população, claro, é quem paga o pato.
Fica o alerta. A chikungunya veio para ficar, e ignorar sua presença é um erro que podemos pagar caro – com a nossa saúde e nosso bem-estar.