O mês de dezembro é tradicionalmente associado a festas, confraternizações e promessas de renovação. No entanto, para um número significativo de pessoas, essa época que deveria ser de alegria se transforma em um período de sofrimento emocional, conhecido popularmente como "dezembrite".
O termo, que já circula no Brasil, descreve os efeitos da chamada depressão de fim de ano. A pressão social por felicidade e bem-estar pode converter o fechamento de um ciclo em um gatilho potente para sentimentos de tristeza, ansiedade e solidão.
O peso do balanço anual e das redes sociais
A psicóloga e psicanalista Camila Grasseli, professora do Centro Universitário UniBH – que integra o Ecossistema Ânima –, explica que quem não se encaixa no padrão de festividades ensolaradas acaba sofrendo. Ela ressalta que não se trata de uma simples melancolia passageira.
"Os últimos dias de dezembro carregam essa ideia de fazer um balanço de todo o ano. Nessas horas, as ausências, os projetos não concluídos, a perda de entes queridos e as frustrações ficam mais evidentes", afirma a especialista.
Grasseli destaca que as redes sociais intensificam a sensação de inadequação. "O Natal aparece no Instagram com árvore maravilhosa, família sorridente, presentes perfeitos e mesa farta", diz. "Isso não condiz com a realidade de muita gente. Quem vive lutos, separações ou a simples distância física de familiares nesta época pode sentir esse contraste com particular potência."
Quando a tristeza vira um sinal de alerta?
Segundo a docente do UniBH, a soma das pressões culturais por um "dezembro ideal" com a sobrecarga emocional e as expectativas por vivências perfeitas cria gatilhos para ansiedade e depressão. "Para quem está enlutado ou já fragilizado, passar por essas datas é como abrir uma ferida ainda não cicatrizada, o que pode intensificar ainda mais o luto", alerta.
Mas como saber se o sofrimento é mais sério? Camila Grasseli lista sinais de alerta:
- Persistência do desânimo após as festas, como uma tristeza contínua em janeiro.
- Sensação constante de incapacidade.
- Falta de interesse pelas atividades cotidianas.
- Agravamento de sintomas como isolamento, sono perturbado ou angústia intensa.
"Aquele gatilho do fim do ano intensificou algo que já estava ali", ressalta a psicóloga.
Estratégias para enfrentar o período e a importância de buscar ajuda
Diante desse cenário, a especialista oferece recomendações práticas. A primeira delas é não se forçar. "Não se obrigue a participar de festas ou encontros natalinos ou de réveillon, caso não esteja com vontade. A não-obrigatoriedade que a gente se impõe pode ser extremamente saudável", aconselha.
Para quem estará sozinho ou longe da família, a sugestão é buscar alternativas que tragam conforto genuíno. "Uma reunião com colegas ou amigos com quem você compartilha o espírito natalino pode ser confortante. Mas o mais importante é fazer o que você quer, sem forçar sorrisos ou se deixar levar pelas convenções sociais".
Camila Grasseli lembra que, embora "dezembrite" não seja um diagnóstico clínico oficial, o desconforto emocional que se repete anualmente merece atenção. "Se todo fim de ano você fica mal, pode ser interessante marcar alguns atendimentos com um profissional para entender o que está por trás desses sentimentos", recomenda.
Ela defende que há espaço legítimo para quem não vivencia o período como uma época de comemoração. Dar voz a essa dor, segundo ela, é não apenas legítimo, mas necessário para o cuidado com a saúde mental.
A matéria original, publicada em 24 de dezembro de 2025, também contou com a contribuição do nutricionista Rafael Damas, que deu dicas sobre alimentação consciente durante as festas.