Canela e saúde: estudo analisa efeitos no peso e doenças metabólicas
Canela: estudo analisa efeitos na saúde metabólica

Presente em receitas doces e salgadas, a canela é mais do que um simples tempero. Um estudo recente buscou investigar se essa especiaria aromática pode, de fato, oferecer benefícios para pessoas com condições metabólicas, como diabetes. A pesquisa, publicada na revista Frontiers in Nutrition em dezembro de 2025, trouxe resultados interessantes, mas também um alerta sobre a necessidade de mais investigações.

O que a revisão científica descobriu?

Os pesquisadores não realizaram um novo experimento, mas fizeram uma revisão do tipo "guarda-chuva". Esse método analisa e sintetiza os resultados de várias revisões sistemáticas e meta-análises já publicadas. No total, o trabalho reuniu 21 pesquisas, todas baseadas em estudos clínicos com adultos diagnosticados com doenças metabólicas.

Entre as condições estudadas estavam diabetes tipo 2, síndrome metabólica, hipertensão, fígado gorduroso e síndrome dos ovários policísticos. Nos estudos analisados, a canela foi usada de forma isolada, em cápsulas, extratos ou pó, e sempre comparada a um placebo. As doses variaram de 0,12 gramas a 6 gramas por dia, e o tempo de acompanhamento dos participantes foi de 1,5 a 12 meses.

Os cientistas avaliaram indicadores-chave de saúde, como glicemia de jejum, hemoglobina glicada (HbA1c), colesterol total, LDL (o "colesterol ruim"), HDL (o "colesterol bom"), triglicerídeos, pressão arterial, peso corporal e índice de massa corporal (IMC).

Resultados positivos, mas com nuances

O achado mais consistente da análise foi relacionado ao controle do açúcar no sangue. De maneira geral, o consumo de canela esteve associado a uma redução significativa da glicemia de jejum, especialmente em pessoas com diabetes e síndrome metabólica. O efeito foi considerado estatisticamente robusto.

Também foram observadas melhorias nos perfis lipídicos. Parte das análises mostrou reduções no colesterol LDL e nos triglicerídeos. Em alguns casos, houve um discreto aumento do colesterol HDL. Outro ponto analisado foi uma possível melhora na resistência à insulina, medida pelo índice HOMA-IR, embora esses resultados tenham sido menos consistentes.

Quando o foco foi pressão arterial, peso e IMC, os efeitos foram mais modestos. Alguns estudos apontaram queda na pressão sistólica e pequenas reduções de peso, mas esses achados não se repetiram de forma uniforme em todas as pesquisas analisadas.

Um dado curioso destacado pelo estudo é que doses mais altas (acima de 1,5 g por dia) e intervenções mais curtas (até dois meses) pareceram gerar resultados mais evidentes, especialmente no controle da glicemia. Em estudos mais longos, os efeitos tendiam a diminuir ou perder significância estatística, sugerindo um impacto mais rápido e pontual do que cumulativo.

Cautela é a palavra-chave

Apesar dos achados promissores, os próprios autores do estudo, incluindo a pesquisadora Victória Ribeiro, adotam um tom de cautela. Eles destacam que há uma grande variação entre os estudos analisados, que envolvem tipos diferentes de canela, doses variadas, populações distintas e métodos nem sempre padronizados.

Muitas das associações encontradas foram classificadas como de evidência fraca ou sugestiva, e não como conclusivas. Os pesquisadores também identificaram, em várias análises, sinais de viés de publicação, que ocorre quando estudos com resultados positivos têm mais chance de serem publicados.

Outro ponto crucial é que a maioria dos estudos teve um tempo de acompanhamento considerado curto, o que impede conclusões sólidas sobre a segurança e a eficácia do uso da canela no longo prazo.

Por isso, os autores deixam claro que a canela não deve ser encarada como um tratamento principal para doenças metabólicas. No máximo, ela pode atuar como uma terapia complementar, sempre associada ao acompanhamento médico, a uma alimentação adequada e ao uso de medicamentos quando prescritos.

O discurso de que a canela teria um efeito direto e consistente para o emagrecimento também não encontra respaldo sólido no conjunto de evidências analisadas. Quando houve perda de peso, ela foi pequena e irregular.

Os pesquisadores defendem que o próximo passo da ciência é investir em ensaios clínicos maiores, mais longos e melhor padronizados. Esses estudos futuros devem esclarecer qual tipo de canela funciona melhor, em que dose, por quanto tempo e para quais perfis de pessoas. Até lá, a canela segue como um ingrediente tradicional com potencial metabólico interessante, mas longe de ser uma solução milagrosa.