Austrália proíbe redes sociais para menores de 16 anos a partir de 10/12/2025
Lei australiana bloqueia redes sociais para menores de 16 anos

Um novo capítulo na relação entre jovens e tecnologia começou na Austrália no dia 10 de dezembro de 2025. Nessa data, adolescentes australianos acordaram em um cenário digital radicalmente diferente: o acesso a plataformas como Instagram, TikTok, Facebook, Snapchat e YouTube foi bloqueado para todos os usuários com menos de 16 anos.

Uma lei para proteger a saúde mental

A medida é resultado de uma lei nacional aprovada com o objetivo claro de proteger crianças e adolescentes. Os legisladores visam combater problemas como cyberbullying, vício em telas e exposição a conteúdos considerados tóxicos, especialmente os de natureza violenta ou sexual. A decisão parte do princípio de que a arquitetura dessas plataformas é intrinsecamente prejudicial para cérebros em desenvolvimento.

Especialistas explicam que os aplicativos utilizam conhecimentos avançados de neurociência e psicologia comportamental para prender a atenção. Feeds de rolagem infinita, likes e comentários são projetados para ativar o sistema de recompensa do cérebro, liberando dopamina – o neurotransmissor ligado ao prazer. Para um adolescente, cujo córtex pré-frontal (área responsável pelo controle de impulsos) ainda está em formação, resistir a esse apelo é uma tarefa hercúlea.

O custo do uso excessivo: depressão, ansiedade e mais

As evidências dos malefícios são robustas e alarmantes. Diversos estudos correlacionam o tempo gasto em redes sociais com o aumento de problemas de saúde mental entre jovens. Nos Estados Unidos, por exemplo, casos de depressão e ansiedade em adolescentes cresceram aproximadamente 150% em uma década.

Os danos vão além. A atenção sustentada e a capacidade de socialização no mundo real são prejudicadas. A exposição constante a padrões irreais de beleza e vida perfeita está diretamente ligada ao aumento de distúrbios de imagem, como anorexia e bulimia, principalmente entre meninas. Casos de automutilação e ideação suicida também apresentam correlação com o uso abusivo dessas plataformas.

Esses dados foram compilados de forma impactante pelo psicólogo social Jonathan Haidt em seu livro "Geração Ansiosa". Haidt defende que o acesso às redes sociais deveria ser permitido apenas após os 16 anos, quando as fases mais cruciais do desenvolvimento cerebral já foram, em tese, preservadas.

Reações globais e críticas à medida

A experiência australiana está sendo observada com atenção pelo mundo. Países como França, Dinamarca e Malásia já discutiram ou apresentaram propostas legislativas semelhantes, indicando um possível movimento global de regulação mais rígida.

Entretanto, a lei não é unânime. Críticos argumentam que a proibição total fere o direito à liberdade de informação dos adolescentes. Eles propõem que, em vez de banir os usuários, seria mais eficaz regular rigorosamente as plataformas, obrigando-as a investir pesado em segurança online, e promover uma educação digital que ensine os jovens a navegar nesse ambiente de forma saudável.

O setor privado também reage. Algumas empresas de tecnologia já entraram com recursos na Justiça australiana, contestando a constitucionalidade da nova regra. A batalha legal entre o Estado e as gigantes do Vale do Silício promete ser longa e complexa.

Enquanto isso, na Austrália, uma geração de adolescentes vive uma experiência inédita: redescobrir o mundo além da tela. O experimento social em larga escala vai fornecer dados valiosos para o debate sobre tecnologia, infância e saúde mental que define nossa era.