
Era pra ser o dia mais feliz da vida de Rafael. O desenhista de 32 anos, conhecido por seus traços precisos nos storyboards de animações, finalmente segurava nos braços a pequena Sofia — depois de nove meses de ansiedade e ultrassons grudados na geladeira.
Mas o universo, esse roteirista imprevisível, resolveu escrever um plot twist de partir o coração.
"Ele me criou com lápis e papel"
Enquanto o cheiro de bebê recém-nascido ainda impregnava o quarto do hospital, o telefone tocou. Do outro lado, a voz trêmula de uma tia: "Seu João não resistiu...". O avô, figura paterna que o ensinara a desenhar cavalos e super-heróis nos cadernos escolares, partira sem conhecer a bisneta.
— Era nosso combinado — conta Rafael, esfregando os olhos avermelhados — "Prometi que ele seria o primeiro a segurá-la depois de mim e da mãe".
Ironia cruel? Coincidência cósmica? O fato é que o velho João, ex-metalúrgico com jeito de contador de histórias, sempre dizia que "vida e morte dançam juntas, só a gente não vê a música".
Luto e alegria numa só respiração
- 6h32: Sofia nasce com 3,2kg no Hospital Universitário
- 11h15: Rafael posta foto da filha com a legenda "Melhor obra-prima"
- 19h47: Avô João morre no mesmo hospital, três andares abaixo
Psicólogos chamam isso de "luto ambivalente" — quando alegria e tristeza ocupam o mesmo espaço no peito. "É como segurar um sorvete derretendo num dia de sol e chuva", define a dra. Lúcia Mendes, especialista em perdas familiares.
No velório, entre flores e condolências, Rafael fez algo que surpreendeu a todos: desenhou o avô segurando Sofia num pedaço de papel kraft. "Agora eles se conhecem", sussurrou, colando o desenho no caixão.
E assim, entre lágrimas e sorrisos, a vida mostrou mais uma vez seu roteiro imprevisível — misturando tintas de alegria e saudade na mesma paleta emocional.