
Imagine chegar no seu emprego e descobrir que seu uniforme — aquele que deveria te proteger e identificar — virou quase uma fantasia? Foi o que aconteceu com uma frentista em Santos, obrigada a usar calça legging justíssima enquanto abastecia carros. A situação acendeu o debate: até onde vai o bom senso (ou a falta dele) na hora de definir roupas de trabalho?
Especialistas em direito trabalhista e ergonomia praticamente gritam em uníssono: uniforme não é desfile de moda. "Quando a vestimenta prioriza o 'visual' em detrimento do conforto e segurança, vira ferramenta de objetificação", dispara a advogada Renata Campos, que já viu casos absurdos — de salto alto obrigatório a blusas transparentes.
O que diz a lei?
O artigo 390 da CLT é claro: empresas devem fornecer roupas adequadas à atividade. Mas o buraco é mais embaixo. "Adequado" significa:
- Proteção contra riscos (óleo quente, no caso de postos)
- Liberdade de movimento
- Respeito à dignidade do trabalhador
E olha só a ironia: enquanto multinacionais adotam calças largas e tecidos tecnológicos, alguns empregadores brasileiros parecem parados nos anos 1950. "É como se confundissem uniforme com figurino de novela das nove", comenta o ergonomista Carlos Menezes, antes de soltar uma pérola: "Já vi até caso de funcionária de loja que precisava amarrar o jaleco na frente porque a empresa comprou tamanho P pra quem vestia G".
E o conforto da trabalhadora?
Pois é. Enquanto isso, a frentista de Santos — que preferiu não se identificar — contou que a legging "parecia segunda pele" e dificultava até agachar para verificar pneus. "Sinto-me exposta o dia todo", desabafou. Não é difícil entender porquê: pesquisas mostram que roupas justas aumentam em 40% as queixas de assédio no ambiente laboral.
O sindicato do ramo já acionou o Ministério Público do Trabalho. E a empresa? Alegou que "segue padrões do setor" — argumento que especialistas consideram furado. "Padrão não é desculpa para desrespeito", crava a procuradora Ana Lúcia Soares.
E você, já passou por situação parecida? Num mundo onde até astronautas têm trajes sob medida, por que ainda insistimos em colocar trabalhadoras em "roupas de fantasia"?