
O clima estava tenso nos corredores do Supremo Tribunal Federal nesta quarta-feira. Algo estava diferente — e não era apenas a importância do julgamento que se aproximava. Pessoas comuns, cidadãos que queriam acompanhar de perto um momento crucial para a democracia brasileira, foram barradas na porta. Sim, você leu direito: o público foi impedido de entrar.
O que estava em pauta? Nada menos que o futuro político de Jair Bolsonaro. O ex-presidente enfrenta um julgamento que pode manchar permanentemente sua ficha criminal — e, convenhamos, não é todo dia que testemunhamos algo dessa magnitude.
O cerco se fecha
Pelos corredores, seguranças reforçados. Um clima quase de cerimônia militar, mas sem a pompa positiva. A ordem era clara: apenas pessoas com credenciamento prévio poderiam entrar. Jornalistas? Alguns. Advogados? Os necessários. Mas o cidadão comum, aquele que paga impostos e financia todo aquele aparato? Barrado.
Não me entendam mal — segurança é importante, especialmente quando falamos de figuras polarizadoras como Bolsonaro. Mas onde fica o direito da sociedade de acompanhar processos que moldam seu próprio futuro? A pergunta ficou pairando no ar, sem resposta.
O que está em jogo
O núcleo da questão é técnico, mas com implicações práticas enormes. A discussão gira em torno da possibilidade de inclusão de condenações já firmes na ficha criminal de candidatos. Parece burocrático? Acredite, não é.
Se o STF decidir a favor, Bolsonaro — ou qualquer outro político — teria suas condenações estampadas de forma permanente em documentos oficiais. Imagine o impacto eleitoral disso? Eleitor algum votaria tranquilamente sabendo de condenações graves registradas a ferro e fogo.
Reações imediatas
Do lado bolsonarista, gritos de «censura!» e «ditadura do judiciário!». Do outro lado, aplausos discretos — afinal, ninguém quer ser associado a comemorações prematuras.
Os ministros, por sua vez, mantinham rostos impassíveis. Alexandre de Moraes, relator do caso, parecia especialmente concentrado. Alguém brincou que ele tinha a expressão de quem carrega o peso do mundo nos ombros — ou pelo menos o peso do Brasil.
O silêncio eloquente
O mais curioso? O quase silêncio midiático sobre o bloqueio ao público. Poucos outlets destacaram essa particularidade democrática. Seria medo de represálias? Ou simplesmente a normalização de práticas que deveriam ser exceção?
Um advogado que conseguiu acesso à sessão me contou, sob condição de anonimato: «Parecia mais um teatro bem coreografado do que uma sessão judicial aberta. Tudo controlado, calculado, ensaiado.»
Restam questões que ecoam beyond os mármores do STF: Até onde vai o direito de acesso da sociedade à Justiça? Em que momento a segurança se torna desculpa para o controle excessivo? E o mais importante — quem vigia os vigias?
Enquanto isso, Brasil, ficamos do lado de fora, tentando espiar pelas frestas o futuro que estão moldando para nós.