
Não é todo dia que um jurista do calibre de Hugo Motta solta o verbo com tanta contundência. Mas quando o assunto é a soberania nacional, até os mais comedidos perdem a paciência. Em entrevista que deixou mais de um de queixo caído, Motta esculhambou — sim, essa é a palavra — as recentes sanções impostas pelos Estados Unidos ao ministro do STF Alexandre de Moraes.
"Isso cheira a colonialismo jurídico", disparou o experiente advogado, com aquela cara de quem acabou de morder um limão. "Tempos desafiadores" foi o eufemismo que usou para descrever o clima político atual, mas pelos olhos arregalados, dava pra ver que a situação é bem mais grave.
O X da Questão
O cerne da polêmica? Uma resolução do Departamento de Estado americano que, nas palavras de Motta, "mete o bedelho onde não foi chamado". A medida restritiva contra Moraes — arquiteto de decisões polêmicas sobre liberdade de expressão — teria, segundo ele, "gosto amargo de interferência externa".
E não pense que foi só um desabafo. O jurista foi à forra:
- "O Brasil não é quintal de ninguém" — frase que ecoou como um tapa com luva de pelica
- Alertou para o "perigoso precedente" de nações estrangeiras ditarem regras ao Judiciário brasileiro
- Lembrou que "democracia se defende com instituições fortes, não com tutela internacional"
Curiosamente, enquanto Motta falava, um passarinho insistia em bicar a janela do escritório — quase como metáfora da insistência americana em se intrometer.
Entre Linhas
O que mais chamou atenção foi a análise afiada sobre o timing da sanção. "Coincidência ou não, isso acontece exatamente quando o STF enfrenta seus maiores desafios", observou, piscando o olho como quem sabe mais do que diz. A referência às investigações sobre ataques às instituições em 8 de janeiro ficou no ar, pesada como um tijolo.
E aqui vai um pulo do gato: Motta sugeriu, sem afirmar categoricamente, que a medida pode ser "tiro pela culatra". "Quando você aperta demais uma mola...", filosofou, deixando a frase inconclusa como quem joga uma bomba e sai de fininho.
O recado final foi cristalino: "O Brasil precisa resolver seus problemas sozinho, mesmo que isso signifique errar e aprender". Palavras duras, mas ditas com aquela convicção que só décadas de tribuna conseguem dar.