Zelenski enfrenta protestos inéditos na Ucrânia: tensão cresce em meio à guerra
Zelenski enfrenta protestos inéditos na Ucrânia

Era algo que ninguém esperava ver em meio ao rugir dos tanques e ao estrondo dos mísseis: ucranianos nas ruas, não contra os invasores russos, mas contra seu próprio governo. Pela primeira vez desde aquela madrugada fatídica de fevereiro de 2022, quando a guerra começou, vozes de descontentamento ecoaram em Kiev.

Não foi uma multidão — talvez umas poucas centenas de pessoas — mas o simbolismo pesa mais que os números. "Estamos cansados", gritava um homem de meia-idade, com as mãos tremendo de frio ou de raiva, difícil dizer. "Queremos respostas, não apenas promessas."

O que está por trás da revolta?

Os protestos, organizados por familiares de soldados, têm um alvo específico: a controversa proposta de recrutamento militar. Mães que já perderam filhos, esposas que temem pela vida dos maridos — a dor dessas pessoas transformou-se em fúria silenciosa, mas cortante.

"Eles falam em 'serviço patriótico', mas quem paga o preço são sempre os mesmos", disparou uma mulher que preferiu não se identificar. Seu filho, de 19 anos, foi convocado há três meses. "Nem sequer recebem equipamento decente", completou, com a voz embargada.

Zelenski entre a espada e a parede

O presidente, que se tornou um ícone global de resistência, agora enfrenta um dilema doméstico espinhoso. Como manter a unidade nacional quando parte da população começa a questionar os sacrifícios exigidos?

Analistas políticos observam com atenção — alguns sussurram sobre "primeiras rachaduras no consenso de guerra". Outros, mais cautelosos, veem apenas um desabafo compreensível após quase dois anos de conflito. "É humano, demasiado humano", comentou um professor universitário, citando Nietzsche sem querer.

Enquanto isso, nas ruas geladas de Kiev, cartazes improvisados balançam ao vento. "Queremos nossos filhos de volta", diz um. "Até quando?", pergunta outro. Perguntas que, por ora, ficam sem resposta.