
O clima estava pesado em Porto Príncipe, e não era só por causa do calor caribenho. Mauro Vieira, nosso chanceler, soltou o verbo durante a reunião ministerial do Celac na última quarta-feira — e deixou claro que o Brasil não vai ficar de braços cruzados.
"É inaceitável", disparou ele, com aquela seriedade que conhecemos bem. "Não podemos, de forma alguma, admitir intervenções externas em assuntos que dizem respeito exclusivamente aos países latino-americanos e caribenhos." A frase ecoou na sala como um soco na mesa.
O Contexto que Muita Gente Ignora
Enquanto isso, Celso Amorim — sim, aquele mesmo — participava de uma reunião paralela sobre a situação no Haiti. Coincidência? Difícil acreditar. Parece mais uma jogada coordenada do Itamaraty para mostrar que o Brasil está de volta ao tabuleiro geopolítico.
Vieira foi além do discurso diplomático tradicional. "Nossa região tem maturidade suficiente para resolver seus próprios problemas", afirmou, com uma convicção que fez vários representantes estrangeiros franzirem a testa. "E quando precisarmos de ajuda, seremos nós quem vai pedir."
O Fantasma das Intervenções Passadas
Quem acompanha as relações internacionais sabe: não é de hoje que potências de fora do continente tentam meter a colher aqui. O chanceler lembrou, sem citar nomes, que "experiências históricas mostram que intervenções externas geralmente pioram as coisas em vez de ajudar".
E detalhou: "Temos mecanismos regionais sólidos. O Celac, por exemplo, pode e deve ser o fórum adequado para discutir nossos desafios comuns." A mensagem era clara como água: chega de tutela internacional.
O interessante é que, enquanto Vieira falava em Porto Príncipe, Amorim discutia justamente o caso mais sensível da região — a crise haitiana. Será que o Brasil está se preparando para uma atuação mais ativa por lá? O timing sugere que sim.
O que Isso Significa na Prática?
Na visão de analistas que acompanharam o evento, o discurso de Vieira marca uma virada. Depois de anos de relativo silêncio, o Brasil está recuperando sua voz na América Latina. E parece disposto a bancar o "irmão mais velho" da região.
"Não se trata de isolamento", explicou o chanceler, antecipando as críticas. "Trata-se de respeito à autodeterminação dos povos. Princípio básico das relações internacionais, mas que alguns parecem ter esquecido."
O recado foi dado — e com uma clareza que não deixa espaço para dúvidas. A América Latina não é quintal de ninguém. E o Brasil, parece, está pronto para fazer valer essa posição.