
Nova York testemunhou nesta terça-feira um daqules discursos que ficam na memória. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com aquela experiência de quem já conhece os bastidores da política internacional há décadas, não economizou palavras ao subir ao púlpito da Assembleia Geral das Nações Unidas.
E olha, foi para valer. Logo de cara, ele mirou nas chamadas "sanções arbitrárias" - aquelas medidas que alguns países poderosos impõem por conta própria, sem aval multilateral. "São inaceitáveis", disparou, com a convicção de quem sabe o quanto isso afeta nações em desenvolvimento. Não foi um comentário qualquer; foi quase um protesto contra o que chamou de "instrumentos de dominação" que perpetuam desigualdades globais.
O Conselho de Segurança na Mira
Mas não parou por aí. Lula foi direto ao ponto quando o assunto foi a reforma do Conselho de Segurança da ONU. Para ele, está mais do que na hora de modernizar essa estrutura que, vamos combinar, ainda reflete o mundo pós-Segunda Guerra. "Precisamos de um conselho mais representativo", argumentou, defendendo a inclusão de novos membros permanentes - incluindo, é claro, o Brasil.
E aqui vem um detalhe importante: ele não chegou com rodeios. Foi claro ao afirmar que países da África e da América Latina merecem assentos permanentes. Uma posição que, convenhamos, faz todo o sentido num mundo que mudou radicalmente nos últimos 70 anos.
A Ferida no Judiciário Brasileiro
Agora, o momento mais tenso - e pessoal - veio quando Lula respondeu às críticas internacionais sobre supostos ataques ao Judiciário brasileiro. A expressão dele mudou, a voz ganhou uma firmeza diferente. "É inaceitável que tentem desestabilizar nossas instituições", afirmou, deixando claro que não admite interferência externa em assuntos internos do país.
Nessa parte, dava para perceber a emoção contida. Afinal, estamos falando de um presidente que conhece por experiência própria os efeitos de narrativas internacionais sobre o sistema judiciário nacional. Ele defendeu a autonomia do Judiciário brasileiro com uma veemência que parecia vir não só do chefe de Estado, mas do cidadão que viveu na pele esses processos.
Um Discurso que Ecoa
O que mais impressiona? A coerência. Lula manteve o tom crítico em relação à governança global, mas sempre propondo soluções - não apenas apontando problemas. Ele defendeu o multilateralismo como única saída para crises globais, desde mudanças climáticas até conflitos regionais.
E fez questão de lembrar: o Brasil está de volta ao cenário internacional com voz ativa. Após anos de certo isolamento, o país retoma seu papel de mediador e defensor de um mundo mais equilibrado. Uma mensagem que, sem dúvida, foi ouvida por líderes mundiais.
No final das contas, foi mais do que um discurso protocolar. Foi a reafirmação de uma política externa independente e, ao mesmo tempo, a defesa intransigente da soberania nacional. Algo que, convenhamos, era esperado - mas que surpreendeu pela intensidade e pelo timing perfeito.